São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientista ainda espera testes em massa

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A vacina contra a malária anunciada ontem tem -por enquanto- "mais impacto científico do que prático". A avaliação é do médico Marcos Boulos, professor de doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP.
Boulos acompanha as pesquisas dos dois cientistas brasileiros há duas décadas. Segundo ele, o importante pode ter sido a descoberta de um novo adjuvante, substância que estimula a resposta do sistema imunológico. A vacina do tétano, utilizada como adjuvante na mesma vacina no início dos anos 80, foi substituída pela vacina da hepatite B.
Mesmo com a nova descoberta, Boulos prefere manter-se cético em relação a qualquer vacina que tente proteger contra um parasita, como é o caso da malária, doença de Chagas e esquistossomose. Diferente da maioria dos vírus, que têm poucas variantes, os parasitas são formados por centenas de proteínas e têm várias fases no organismo. "Eles sempre tapeiam o sistema imunológico", diz Boulos.
A vacina anunciada ataca o parasita antes que ele chegue ao fígado. Essa fase -segundo Boulos- dura apenas algumas horas.
Outras vacinas em teste atacam a doença propriamente. Depois de se replicar nas células do fígado -entre 7 e 14 dias- o parasita cai na corrente sanguínea, causando febre e destruindo os glóbulos vermelhos.
A vacina do colombiano Manuel Patarroyo atua nesta fase. Segundo Boulos, que participou dos testes da vacina no Brasil, os resultados iniciais da droga eram semelhantes aos conseguidos agora pelo casal Nussenzweig.
A vacina de Patarroyo chegou a imunizar até 80% dos colombianos testados, mas no Brasil sua eficácia caiu a zero. Segundo Boulos, essa queda se deve a mudanças nos parasitas. O próprio Instituto Walter Reed, do Exército dos EUA, estaria pesquisando novos adjuvantes para testar a vacina de Patarroyo em grande escala na África.
Para o professor Boulos, uma vacina adequada contra a malária terá de considerar as dificuldades de aplicações nas regiões atingidas. Uma droga que não imunize completamente, pode levar a uma falsa idéia de proteção e aumentar a exposição das pessoas.

Texto Anterior: EUA emitem visto especial
Próximo Texto: Conheça a história da pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.