São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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REPRESSÃO FINANCEIRA

Marcou época na macroeconomia do século 20 uma teoria conhecida como "repressão financeira". O economista Ronald McKinnon dizia, já no início dos anos 60, que a tentativa dos países menos desenvolvidos de regulamentar os sistemas financeiros e criar sistemas de financiamento com juros subsidiados ou artificialmente baixos era inócua.
Apenas a liberalização dos sistemas financeiros e uma taxa de juros de mercado, totalmente livre (mais alta que a permitida pelo Estado desenvolvimentista), conduziriam a sistemas financeiros saudáveis e eficientes. A tentativa do governo de intervir no sistema financeiro (a "repressão") criaria distorções na criação e na distribuição da riqueza.
O grande fantasma que assombra os mercados bancários e financeiros dos países menos desenvolvidos é conhecido como "desintermediação financeira". Do agiota ao pré-datado, passando pelo tráfico de vales e pela gestão de "caixa 2", são todas formas patológicas -mais arriscadas e sem garantia pública plena.
Dados recentes revelam que aumentou o uso do cheque pré-datado. Segundo a Teledata Informações & Tecnologia, operadora do sistema TeleCheque, a queda da inadimplência em 1996 está associada ao uso crescente de cheques pré-datados no varejo. Em 1993, eles representavam 44% das compras com cheque. No ano passado, chegaram a 67%.
O atraso no pagamento da fatura do cartão de crédito, sistema com mecanismos mais claros e juridicamente estabelecidos de cobrança e segurança, é punido com juros que ainda andam pela casa dos 10%. Um pré-datado pode ser renegociado diretamente com o credor, pedindo mais alguns dias. O custo parece menor, mas o risco é na verdade maior.
Na prática, embora não haja a chamada "repressão financeira", os efeitos a ela associados são evidentes. Mesmo com juros altos, é claro o avanço da desintermediação.
A inadimplência está caindo. Mas tanto tempo de juros tão altos distorce o sistema tanto quanto a antiga intervenção desenvolvimentista.

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