São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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REFÚGIO GLOBAL

Desde que, há algumas semanas, o presidente do banco central dos EUA, Alan Greenspan, declarou que os mercados acionários passavam por uma "exuberância irracional", Wall Street mostrou-se mais exuberante e mais irracional ainda.
Não é fácil interpretar as palavras de Greenspan. Seria um sinal de que os juros logo teriam de subir, supondo que o presidente do banco central vê mais longe? Ou, ao contrário, o comentário foi apenas uma decorrência da percepção de que o crescimento econômico dos EUA tende a diminuir, depois de praticamente sete anos de expansão, tornando as atuais expectativas de retorno financeiro inexequíveis?
Nos primeiros dias do ano, Wall Street mostrou-se extremamente volátil, e a taxa de juros de 30 anos do Tesouro dos EUA por enquanto indica uma tendência de alta. Mas, de fato, os indicadores de crescimento econômico continuam confirmando o cenário de trajetória não-inflacionária. E, na esteira da alta nos juros, observou-se neste início de ano uma valorização do dólar com relação tanto ao marco como ao iene.
Os indicadores da economia norte-americana continuam inconclusivos, mas a explicação para o nervosismo talvez esteja fora dos EUA.
Nas últimas semanas aumentou o ceticismo frente à recuperação da economia alemã e, de modo geral, frente à viabilidade de o euro, a moeda única européia, assentar sobre bases fiscais realmente sólidas. No mesmo período aumentaram também as dúvidas quanto ao desempenho do Japão, que também custa a retomar o crescimento econômico e a sanear seu sistema bancário.
Assim, embora de fato a economia norte-americana deva crescer menos em 1997, e as Bolsas pareçam ter exagerado na alta, o resto do mundo enfrenta dificuldades (e desemprego) muito maiores que os EUA.
A tensão ainda deve continuar nos próximos meses, mas os EUA ainda são o refúgio predileto dos investidores globais. Por quanto tempo? Isso depende mais que nunca dos humores de Alan Greenspan.

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