São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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O balcão dos indecisos

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Faltam sete dias para a votação da reeleição no plenário da Câmara. É curioso que muitos deputados ainda se declarem indecisos.
Seria normal se muitos brasileiros ainda estivessem indecisos. Afinal, o tema é complexo para o cidadão comum. Mas os deputados discutem o assunto de forma intensa há um ano.
Só que ainda há baciadas de indecisos. Dos 513, é certo que pelo menos uns 100 se declarem indecisos em público. Por quê?
Uma hipótese, improvável, é que sejam incapazes de discernir entre o que seria bom e ruim para o país. Coitados, estão em dúvida. Não conseguem desempenhar a função para a qual foram eleitos e são pagos.
Há uma segunda hipótese, que vale apenas para os indecisos do PMDB. Esses estariam esperando a convenção nacional do partido, no domingo, para tomar uma posição.
É uma desculpa esfarrapada. Afinal, os parlamentares do PMDB não são exatamente um exemplo de fidelidade partidária. Além disso, nada impede um deputado de dar sua opinião pessoal e depois submetê-la ao partido.
Há uma terceira e última hipótese, talvez a mais verossímil. Esses deputados indecisos seriam os do balcão de negócios, da política dos favores, do fisiologismo. Fingem indecisão para barganhar o voto.
Quanto mais o tempo passa, mais valoriza o passe desses claudicantes. Nos próximos dias, os pedidos vão bater na estratosfera.
Esse é um dos argumentos usados pelo governo para acelerar a votação da emenda. "É melhor para o país", afirma um ministro. Hoje, ficaria "mais barato" conseguir a reeleição.
Uma coisa que nenhum tucano diz é quanto já está custando para aprovar a reeleição dessa forma. Tampouco se encontra um peessedebista admitindo a impropriedade de uma votação ter "um preço". Para o governo, é como se fosse um fato da vida. Inexorável.
Em resumo, há deputados fisiológicos. Mas eles só existem porque alguém no Palácio do Planalto está de bom grado disposto a alimentá-los.

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