São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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Saudade da Casa da Dinda

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Bons tempos aqueles em que a nossa indignação moral eram os jardins da Casa da Dinda. Tínhamos um presidente da República insensível ao dinheiro público (e mais insensível ainda ao ridículo). Um presidente que nos envergonhava -embora ele tivesse aberto a economia e iniciado o movimento rumo à modernização.
Agora é pior. É a classe política, o empresariado disposto a gastar os tubos, parte da mídia interessada no continuísmo, é toda uma orquestra corrompida por um maestro que revela maior insensibilidade moral do que a de Collor. FHC não está plantando um jardim babilônico. Está dando uma de Nabucodonosor para ficar no poder além do tempo que jurou respeitar.
O direito à reeleição é uma necessidade que só não foi aprovada no tempo oportuno porque FHC e alguns tucanos foram contrários -a coerência moral deles é menor do que o laço da gravata que usam. Enxergando pouco e temendo uma vitória de Lula, a solução foi derrubar a proposta. Evidente que sempre há tempo para se corrigir um erro.
Mas não é essa a intenção nem o interesse dos arautos da reeleição: querem o continuísmo de um esquema de poder que priorizou o capital e hostiliza o trabalho numa escala indecente.
Nem mesmo faltará o precio$o lubrificante para aprovar a reeleição-já. O empresariado respira aliviado, livre da patrulha sindical e das greves. Alguns empresários juram que perderam uma noite de sono, mas no dia seguinte demitem 5, 10 mil trabalhadores -se houver protestos, maior será o desemprego. Melhor que isso nem dois disso. Assim é que caminha uma sociedade de Primeiro Mundo. Jardins da Dinda são manifestações provincianas de novos-ricos.
Bons tempos aqueles em que apenas o presidente e meia dúzia de capangas chantageavam os fornecedores e empreiteiras do governo. A decomposição moral da maioria da classe política, FHC no pódio, é mais ostensiva e deprimente.

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