São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Americanos assumem controle da Lucent

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Até o final deste mês, os norte-americanos deverão assumir o controle acionário da Lucent Tecnologies no Brasil, por meio da compra das ações da empresa -49% do capital com direito a voto- que estão em poder do grupo Sharp.
A Lucent é uma fabricante de equipamentos de telecomunicações que nasceu do desmembramento da AT&T no ano passado. A gigante norte-americana se dividiu em três empresas independentes: NCR (informática), Lucent (telecomunicações e Laboratórios Bell) e AT&T (serviços).
Antes do desmembramento, a empresa era conhecida como AT&T Network Systems do Brasil. O fim iminente da associação com o grupo Sharp, iniciada em 1992, foi confirmado à Folha pelo novo presidente da Lucent brasileira, Virgílio Freire.
Ao que tudo indica, trata-se de uma separação consensual. Segundo Freire, a Sharp quer se dedicar à produção de eletroeletrônicos, enquanto a Lucent quer aumentar seus investimentos em telecomunicações no país. "Há convergência de interesses", diz ele.
Virgílio Freire diz que a Lucent vai investir pesado para ampliar sua fatia no mercado. Hoje, ela fornece cerca de 7% do total de equipamentos de telefonia celular adquiridos pelas telefônicas brasileiras.
Freire diz que a empresa quer aumentar esta participação para 30%: "Não estamos aqui para brincar. Nossas metas são muito ambiciosas", diz ele.
A Lucent não é a primeira empresa do setor de telecomunicações a ter seu controle retomado pelo sócio estrangeiro. A primeira a trilhar este caminho foi a Ericsson.
No mês passado, a Ericsson sueca assumiu as ações com direito a voto da empresa brasileira que estavam empoder dos grupos Monteiro Aranha e Bradesco Seguros. Os sócios nacionais receberam ações preferenciais, sem direito a voto.
Este processo -desencadeado pela emenda constitucional de 1995, que eliminou as diferenças entre capital nacional e estrangeiro- deve se estender a outras empresas do setor.
Grandes indústrias de telecomunicações foram nacionalizadas no início dos anos 80, por imposição da lei de informática. A Siemens, por exemplo, passou o controle da Equitel para o grupo Hering que, posteriormente, o repassou a outro grupo nacional: a Mangels.
A NEC (de origem japonesa) transferiu o controle de sua subsidiária brasileira ao empresário Mário Garnero. Este, por sua vez, revendeu as ações para as Organizações Globo (Roberto Marinho), durante o governo Sarney, por pressão do então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães.
A partir da emenda constitucional, todas as empresas com sede no país são consideradas brasileiras, independente da origem do acionista controlador. Ou seja, as indústrais de telecomunicações ficaram liberadas da antiga imposição criada pela lei de informática.
Tudo indica que a Equitel será a próxima neste processo. Segundo o diretor-superintendente da empresa, Werner Dittmer, a Siemens tem interesse em reassumir o controle da empresa no país.
A Alcatel, de origem francesa, deve continuar por mais tempo sob controle nacional que, no caso, pertence ao grupo Boa Esperança (família Gouvêia Vieira).

Texto Anterior: Ações no Brasil devem subir 50% em 97
Próximo Texto: Mesbla propõe a seus credores transformar dívidas em ações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.