São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Ação hollywoodiana dita 'ética' de "Medidas Extremas"

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Em sua passagem pelo Rio de Janeiro para divulgar "Medidas Extremas" esta semana, o ator inglês Hugh Grant disse ter assistido uma sessão do filme que protagoniza na periferia de Nova York.
Disse ter gostado de ver o público prestando atenção não só às cenas de ação, mas também às discussões éticas.
Ora, difícil um cenário diferente. As tais discussões éticas do filme que opõem Grant -um médico plantonista no pronto-socorro de uma espécie de Hospital das Clínicas nova-iorquino- a Gene Hackman -diretor de um projeto confidencial que sacrifica vidas humanas no próprio hospital- são, de fato, cenas de ação.
A principal discussão 'ética' dos dois se dá em meio a uma perseguição num elevador, e o desenlace é um tiro no pescoço.
O doutor Lawrence Myrick (Hackman) não se importa em recrutar mendigos como cobaias e lesionar-lhes a medula para seu projeto de reconstituição neural e cura da paralisia -o "trifase".
Afinal, ele beira os 70 e a pesquisa com ratos poderia obter resultados em apenas três anos; com cachorros, em cinco. Em sua defesa, diz que os mendigos são drogados, inúteis, chaga social.
Acha que o sacríficio de uma pessoa pela cura do câncer, por exemplo, é bem-vinda. Já Guy Luthan (Grant) apela para um argumento raso e, a seu modo, definitivo: os mendigos não são voluntários, não foram consultados se querem morrer para curar paralíticos.
Para ilustrar tais argumentações, a produção não foi exatamente sutil: em cargos estratégicos do trifase trabalham parentes de paralíticos -os dois brutamontes encarregados de apagar Guy, por exemplo, e Jodie (Sarah Jessica Parker), a enfermeira em que o herói mais confiava até saber fazer parte do projeto.
A justificativa de Jodie para Guy dá a dimensão patada-de-elefante do roteiro: seu irmão é paralítico desde que acidentou-se num desastre de carro dirigido por ela, bêbada.
Se é muito pedir um Grant sozinho contra todos num filme só, há ainda aqueles truques de roteiro para encaixar a história. Grant tem uma moto porque um dia ela o livrará de seus perseguidores trafegando na contra-mão; o lixo do banheiro de Jodie é forrado com um saco com o timbre do projeto secreto e Guy um dia usará aquele cômodo.
Liz Hurley, mulher de Grant e produtora de 'Medidas', explicou no Rio que "o filme não poderia ser muito hollywoodiano nem excessivamente real, para não ficar deprimente".
Foi bastante feliz no segundo objetivo. Mesmo em se tratando de um pronto-socorro de um hospital explicitamente nova-iorquino, mal se vê o sangue espirrar.
Quanto a fugir dos ditames de Hollywood, haja visto ainda por cima a regeneração do herói no final, fica para uma próxima.

Filme: Medidas Extremas
Produção: Inglaterra, 1996
Direção: Michael Apted
Com: Hugh Grant, Gene Hackman, Sarah Jessica Parker
Quando: a partir de hoje, nos cines Eldorado 2, Center Norte 2 e circuito

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