São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Shaquille não joga para o time

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pode-se acusar "Kazaam" de qualquer coisa, menos de propaganda enganosa. Na publicidade de lançamento do filme, prometem-se apenas Shaquille O'Neal (com as devidas estatísticas de peso e altura) e "81 efeitos especiais". E é apenas o pivô de basquete e os efeitos que se oferecem.
"Kazaam" se insere em uma corrente muito em voga na indústria cinematográfica norte-americana, uma espécie de não-cinema.
Diferentemente da época áurea dos estúdios, em que por trás dos nomes das grandes estrelas havia uma série de artesãos competentes, este filme só existe como veículo para a vedete, não parece haver preocupação em se realizar o veículo em si.
Shaq é um gênio desperto de um sono de 3.000 anos por um garoto problemático (vivido pelo sem-graça Francis Capra). O jogador canta rap, grita, anda de bicicleta, grita, conta piadas, grita, faz chover hambúrguer e grita.
Entre esses momentos, o roteiro quase inexiste, não há nenhuma construção de personagens (as figuras secundárias entram e saem de cena e mudam de persona sem nenhum constrangimento), não se vai a lugar nenhum.
Para se criar alguma identificação com o que acontece nos momentos em que Shaq não está presente, apela-se para um amontoado de clichês sobre lares desfeitos, dificuldades de aproximação com o padrasto, rejeição paterna.
A questão maior é saber se o público se importa.
Shaq ocupa na tela a mesma posição que na quadra. Um dos responsáveis pela expansão da NBA, ajudou a formar uma legião de fãs pouco interessada em esquema tático, corta-luz, sistema de defesa ou mesmo no resultado. O que conta é a enterrada, o toco.
A partida perde espaço para os melhores momentos, a anedota substitui a história.
Há muito que personalidades como Arnold Schwarzenegger perceberam que essa aposta no anedótico é finita e pouco rentável.
O musculoso ator austríaco sabe que seu físico não é suficiente para mantê-lo no estrelato e cada vez mais se preocupa em trabalhar com diretores, roteiristas e produtores competentes.
O Shaq jogador já se deu conta disso. Seu jogo evolui ano a ano -ele é, por exemplo, um dos líderes no ranking de porcentagem de arremessos corretos desta temporada da NBA.
Resta saber se ele terá o mesmo bom senso para realizar seu grande potencial no "showbizz".

Filme: Kazaam
Direção: Paul Michael Glaser
Produção: EUA, 1996
Com: Shaquille O'Neal, Francis Capra
Quando: a partir de hoje, nos cines Gemini 1, Eldorado 6 e circuito

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