São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Governo diz que usa 'moedas legítimas'

VALDO CRUZ; MARTA SALOMON; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso afirmam, em conversas reservadas, que o governo está lançando mão de "moedas legítimas" ou "éticas" para conseguir os 308 votos necessários à aprovação da emenda da reeleição.
O comentário é feito para justificar as negociações que o governo tucano tem feito nos últimos dias para atrair os deputados indecisos.
Segundo assessores de FHC, a liberação de verbas do Orçamento e a nomeação de afilhados em cargos federais são as moedas consideradas legítimas.
A Folha ouviu de assessores de FHC o seguinte raciocínio sobre a liberação de verbas do Orçamento pedidas por deputados: "A política é a arte de fazer escolhas, você nunca trata os adversários da mesma forma que os aliados. Não dá para dar tudo a todo mundo".
Os tucanos providenciaram também uma justificativa para atender indicações para cargos às vésperas da reeleição: "Nomeação de políticos acontece no mundo inteiro. No Brasil não seria diferente".
Balcão de negócios
As negociações em torno da reeleição relembram os tempos da votação do mandato de cinco anos para o ex-presidente José Sarney.
Em 88, durante o Congresso constituinte, o governo Sarney distribuiu concessões de rádio e TV para garantir um ano a mais na Presidência da República.
Os pedidos estão sendo centralizados em dois gabinetes do Palácio do Planalto: o do ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) e o do secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas.
Os deputados são consultados um a um sobre como pretendem votar a emenda. Mesmo dizendo que não barganha votos, o governo não se nega a ouvir os pedidos dos "eleitores".
Segundo líderes governistas, a tática do governo é cumprir as promessas apenas depois que a emenda for aprovada.
A estratégia não agrada a alguns deputados, que já receberam promessas até hoje não cumpridas.
Os governistas sustentam que as negociações sobre a reeleição não custarão nenhum tostão a mais aos cofres públicos.
Um dos exemplos do que os tucanos classificam como "custo zero" é a liberação de verbas para a conclusão da rodovia BR-364, que atravessa Rondônia. A bancada de Rondônia reuniu-se com Eduardo Jorge e pediu a liberação de R$ 4,5 milhões para a estrada.
A argumentação é que essa é a boa barganha. A estrada em questão já gastou mais de R$ 25 milhões e é considerada prioritária. O dinheiro sairia de qualquer forma. O pedido dos deputados de Rondônia só apressa a liberação.
Assessores de FHC fazem questão de frisar que o governo não usará de métodos espúrios para cabalar votos pró-reeleição.
No Congresso, porém, governistas e malufistas passaram os últimos dias trocando acusações. Aliados do ex-prefeito Paulo Maluf dizem que ministros de FHC oferecem favores a deputados.
Governistas dão o troco e afirmam que malufistas estão fazendo promessas de financiar futuras campanhas eleitorais de deputados que votem contra FHC.
Os dois lados chegam a citar cifras, mas ninguém apresenta provas de suas denúncias.
Além dos casos individuais, o governo faz também negociação no atacado, com blocos de parlamentares. As bancadas ruralista e evangélica são dois exemplos.
Os deputados evangélicos estão pressionando o governo a encerrar a investigação que a Receita Federal faz nas contas da Igreja Universal do Reino de Deus.
Como não tinham sido atendidos até o final da semana passada, estavam ameaçando a se unir a Maluf e votar contra a reeleição.
Já os ruralistas querem facilidades para renegociar suas dívidas superiores a R$ 200 mil. Pretendem se reunir com o governo nesta semana para tratar do assunto.
(VALDO CRUZ, MARTA SALOMON e FERNANDO RODRIGUES)

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