São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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FHC propôs referendo a Maluf para tentar acordo

KENNEDY ALENCAR
EDITOR DO PAINEL

O presidente Fernando Henrique Cardoso tentou negociar com o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) a realização de um referendo em troca de menor resistência do líder do PPB à emenda da reeleição. Maluf recusou.
Na segunda-feira passada, FHC autorizou o presidente do PPB, senador Esperidião Amin (SC), e o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) a conversarem com Maluf no dia seguinte para levar a proposta do Planalto.
"Agora é tarde demais. Eu quero que ele se arrombe. A emenda não vai passar no plenário", foi a resposta de Maluf, dada em voz alta.
Pela proposta do Planalto, Maluf e FHC se encontrariam em Brasília, deixando claro que retomavam o diálogo apesar de serem adversários. Maluf faturaria politicamente o encontro, anunciando que obtivera do presidente o compromisso de um referendo sobre reeleição.
Abertura
Desde novembro do ano passado, FHC tentava sem sucesso fazer um acordo com Maluf, sinalizando que aceitava uma forma de consulta popular sobre reeleição (referendo, preferencialmente).
Em uma conversa com FHC no início de dezembro, Amin sentiu que o presidente abrira a porta para se negociar um referendo.
Na segunda passada, tentou pela última vez. Ligou para FHC na frente de Delfim: "Presidente, a nossa conversa de dezembro ainda está de pé?". FHC respondeu: "Não posso prometer e depois me desautorizar. Converse com o Maluf. Se ele aceitar, dê-me 24 horas para convencer meus aliados".
Amin jantou com Delfim na segunda-feira. Os dois chegaram à conclusão que a reeleição passaria e que seria bom Maluf sair do episódio como o "pai do referendo".
Delfim telefonou para Maluf e marcou um encontro para as 12h de terça. O senador e o deputado chegaram à casa de Maluf às 13h30.
Amin e Delfim tentaram convencer Maluf da importância de ele e o presidente conversarem. Amin argumentou que no dia seguinte da votação da reeleição o PPB continuaria a existir e que FHC estava disposto a dialogar com a sigla.
Maluf afirmou: "São 25 anos de amizade. Mas agora ele vai ter que ir para o plebiscito, porque a reeleição não será aprovada".
O ex-prefeito conversara com os peemedebistas Orestes Quércia e Paes de Andrade. Os dois teriam assegurado que havia 40 deputados no PMDB contra a reeleição.
Amin ponderou que a emenda seria aprovada, disse que falara com FHC e fez a proposta de referendo: "Paulo, eu sei o que estou falando. Eu te garanto que o presidente aceita o referendo. E você pode conseguir isso dele".
"Agora é tarde de mais", respondeu Maluf, reafirmando que a emenda não passaria no plenário.

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