São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-prefeito rejeitou acenos

KENNEDY ALENCAR
DO PAINEL

O senador Esperidião Amin, presidente do PPB, assumiu em novembro passado o papel de interlocutor entre Fernando Henrique Cardoso e Paulo Maluf. Desde então, tentou várias vezes, sem sucesso, articular uma reaproximação entre o tucano e o pepebista.
Desde novembro passado, Amin dizia a Maluf que achava que a emenda da reeleição seria aprovada e que seria importante retomar o diálogo com o presidente.
Maluf tem certeza que FHC estava por trás dos ataques que o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, lhe fez durante a eleição municipal de 96. Por isso resistia a se reaproximar do presidente. FHC sempre negou isso.
Motta atacou Maluf (e o então candidato do PPB a prefeito de São Paulo, Celso Pitta) mais do que o PT, na frustrada tentativa de eleger o senador José Serra, candidato do PSDB na disputa.
Em novembro, Amin foi ao Planalto. FHC autorizou o senador a marcar um "quibe" (jantar) em Brasília, na casa de um amigo de origem árabe. Maluf abortou a tentativa: "Não há clima. A hora de conversar era antes da eleição".
O deputado Delfim Netto, que assumiu com Maluf a linha de frente dos pepebistas contrários à reeleição, sempre lembrava ao ex-prefeito que o "ofendido" era ele. Coisa com a qual concordou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) nas conversas telefônicas e pessoais que manteve com Maluf desde que Serjão começou seus ataques.
Em dezembro, Amin voltou ao Planalto. Na conversa, foi emitido um sinal de que FHC aceitaria uma referendo sobre reeleição.
Para seduzir votos pepebistas para a reeleição, o presidente transmitiu também que estava disposto a analisar uma maior participação do PPB no seu governo.
Amin, candidato a governador de Santa Catarina em 98, viajou com a família para o Havaí depois da conversa. Quando voltou, no final do ano passado. Conversou novamente com FHC, por telefone. "A adrenalina do Maluf continua muito alta ainda", disse.
Até a cirurgia em que Maluf extraiu um tumor maligno na próstata, no dia 2 de janeiro, serviu como oportunidade para um gesto presidencial de reaproximação.
FHC enviou um telegrama para a casa do ex-prefeito, achando que ele tomaria a iniciativa como um gesto de boa vontade.
Todavia, Maluf, que estava no hospital, deu demonstrações de que não queria conversar. Disse que só recebera a mensagem presidencial por meio da imprensa.
Somente na quarta passada Maluf deu a resposta a FHC. Fria e protocolar, começava assim: "Acuso o recebimento do telegrama de V. Exa. ...".
Um tucano íntimo do presidente diz que ele chegou a pensar em pegar o telefone e ligar para Maluf, com a desculpa de que havia recebido sua resposta. O mesmo tucano afirma que não sabe se o presidente fez isso.

Texto Anterior: FHC propôs referendo a Maluf para tentar acordo
Próximo Texto: Governo teme 'surpresa' de peemedebistas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.