São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997 |
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'Partido-ônibus' passa a ser 'arquipélago' de casos regionais
CLÓVIS ROSSI
Hoje -dia de uma convenção nacional que, de novo, vai decidir não decidir- o que é esse ex-ônibus, no qual cabiam todos e, não obstante, andava? É tudo, menos motivo de orgulho para seus próprios integrantes, exceto, naturalmente, para o seu presidente nacional, o deputado Paes de Andrade (CE), que responde, por dever de ofício: "Continua a ser o maior partido do Brasil, com maioria no Congresso, cerca de 1.300 prefeitos, quase 13 mil vereadores, 8 milhões de filiados". Qualidade Na quantidade, é inegável que Paes de Andrade tem razão. Mas e na qualidade? Respondem os próprios peemedebistas: "Era uma grande frente, ficou uma pequena frente", diz o deputado Alberto Goldman (SP). "É um arquipélago de situações regionais, algumas muito fortes, outras mais fracas", para o também deputado federal Aloysio Nunes Ferreira Filho, de São Paulo. "O partido está um pouco no ar, isso é verdade, mas tem potencial", conforma-se Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo e comandante do mais recente naufrágio peemedebista, na eleição presidencial de 1994. Quércia obteve 2.773.793 votos (4,38% dos votos válidos), terminando em quarto lugar, atrás de FHC, Lula e Enéas Carneiro (Prona). O candidato do Prona obteve quase 2 milhões de votos a mais que o peemedebista. Perfil Visto de fora, o PMDB é mesmo "o arquipélago de situações regionais" apontado por Aloysio. Maria D'Alva Kinzo, professora da Universidade de São Paulo e especialista em partidos políticos brasileiros, diz que a força do PMDB é exatamente a razão de sua fraqueza. "O problema do PMDB é que ele tem força eleitoral, pela sua implantação nacional, mas é regionalizada demais e não há um líder que costure todas as clivagens regionais", diz Maria D'Alva. Não há tal líder nem pode haver, se estiver correta a análise que faz outro cientista político, Bolívar Lamounier: "O PMDB hoje é uma grande federação de lideranças que só convergem na medida em que nenhuma seja muito afirmativa. É uma espécie de federação latente". Não que seja um problema específico do PMDB. Na verdade, todos os demais partidos têm dificuldades similares, mas, como diz Maria D'Alva, "sente-se mais a dificuldade no PMDB, por ser o maior". Hora da saudade Há no PMDB quem ache que o partido só tem passado. Goldman, por exemplo: "A maior dificuldade em nossas campanhas é que temos que falar do passado, dar uma aula de história, porque o futuro não está claro". É igualmente no passado que o senador Pedro Simon (RS), peemedebista histórico, busca os motivos para seu desencanto com o partido. Fatalidades Simon lista o que chama de "fatalidades" que marcaram a história do PMDB. A primeira foi a morte de Tancredo Neves, o único peemedebista que conseguiu eleger-se para a Presidência da República. Na véspera da posse, foi obrigado a internar-se no hospital, do qual só saiu para o cemitério. "Ninguém pode saber o que seria o Brasil e o que seria hoje o PMDB se ele tivesse governado", suspira Simon. A segunda fatalidade foi a morte de Ulysses Guimarães, que, bem ou mal, dava uma cara nacional à confederação de lideranças regionais que o PMDB sempre foi. Quércia Para Simon, ainda houve uma terceira fatalidade: "O fato de Quércia não ter entendido que jamais poderia ser o presidente do partido". Quércia forçou a defenestração de Ulysses da presidência partidária, na tentativa de tornar-se a "liderança afirmativa" que Bolívar Lamounier acha impraticável entronizar-se no partido. O resultado foi o aprofundamento das cisões até a humilhação suprema de o PMDB ter obtido menos votos de legenda, no pleito municipal paulistano do ano passado, do que o esotérico Prona, de Enéas. Texto Anterior: Sigla forte é trunfo Próximo Texto: Em 'guerra civil', PMDB não tem alternativas a Quércia em SP Índice |
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