São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997 |
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Dacio Malta
ELIO GASPARI (48 anos, autor, diretor e produtor do musical "Começaria Tudo Outra Vez".)Seu musical, tratando da vida do cantor Gonzaguinha, foi um sucesso no Rio de Janeiro. A que o senhor atribui essa ressurreição de um cantor esquecido desde que morreu, em 1991? Com Gonzaguinha, é comum que as pessoas não consigam lembrar o nome de suas músicas, mas é raro você encontrar uma pessoa que não saiba cantarolar uma delas. A lembrança dele está mais ligada aos intérpretes. "Explode Coração" é lembrada por Maria Bethânia. "Redescobrir", por Ellis Regina. Cinco anos depois de sua morte, as músicas de Gonzaguinha libertaram-se completamente de sua voz. Foram relançadas quatro coletâneas e ele está está de novo por aí. Quem é melhor, Gonzaguinha ou Gonzagão, seu pai? Vamos fazer de conta que o Gonzagão foi o pai de Gonzaguinha. Isso porque não foi. A mãe de Gonzaguinha, Odaléia, era pastora de Ataulfo Alves e dançarina do cabaré Brasil. Ela disse ao Gonzagão que o menino era dele e ele aceitou. Anos depois, Gonzagão descobriu que era estéril. Odaléia morreu de tuberculose, e o menino foi criado no morro do São Carlos. Luis Gonzaga, o rei do baião, tinha largado a música e vivia no interior de Pernambuco, quando Gonzaguinha o trouxe de volta. Por causa da existência do Gonzaguinha, ele virou o Gonzagão. São estilos diferentes. Um é rural, o outro é urbano. Um estava mais para a exaltação, para a fé nas autoridades. O outro era um indignado. Era indignação ou mau humor? Gonzaguinha passava uma imagem de antipático e procurava contornar isso, mas era indignação mesmo. Ele foi um cronista. Andava com um caderno de notas registrando a vida. Seu primeiro sucesso contou a história de uma mendiga negra a quem roubaram a japona e, por isso, andou nua nos trens de Madureira. Hoje a indignação só passa pela música no rap. Mas veja uma letra de Gonzaguinha, de 1972. Chegaram a dizer que ele devia ser deportado por falar impropriedades numa época em que tudo ia bem. Era assim: "Você deve notar que não tem mais tutu. E dizer que não está preocupado. Você deve lutar pela xepa da feira E dizer que está recompensado. Você deve estampar um ar de alegria E dizer: tudo tem melhorado Você deve rezar pelo bem do patrão E esquecer que está desempregado." Texto Anterior: Deu macaco no bananal de Gustavo Franco; O DNER descobriu a emergência inútil; A tecnologia política da pre$$ão das bases Próximo Texto: O futuro da barata-robô Índice |
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