São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Governo ignorou rompimentos em emissário

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O emissário submarino de esgoto do Guarujá foi concluído em 1989, com 4.500 metros de extensão. O projeto inicial previa que ele lançasse esgoto tratado a essa distância da praia, e que sua operação fosse monitorada pelo Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo).
Consideradas essas condições ideais, o emissário do Guarujá nunca funcionou como deveria. O tratamento do esgoto não chegou a ser feito, e ele sempre foi despejado no mar sem qualquer cuidado adicional.
A Cetesb não notou que o emissário funcionava precariamente, não alertou a Sabesp nem multou quem quer que seja, como é sua responsabilidade.
O monitoramento não saiu do papel. Menos de dois anos depois, os 1.700 metros finais do emissário deixaram de funcionar por causa de um rompimento que nunca foi consertado.
"O que houve foi um quadro de omissão real", diz Hugo Marques da Rosa, secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, pasta à qual a Sabesp, responsável pelo emissário, está ligada.
"Mesmo que não tivessem ocorridos os rompimentos, o emissário teria poluído a praia por jogar esgoto não-tratado no mar", afirma o secretário. Rosa diz que não conhecia essa situação até o ano passado.
Difusores
Na época do primeiro rompimento, em 1991, a Sabesp, que contratou as obras do emissário, e as empresas responsáveis pela construção (Ster e Tranpav-Codrasa) fizeram um reparo de emergência, instalando difusores que ajudariam a espalhar o esgoto no mar na altura de 2.800 metros.
O emissário ficou assim até fevereiro do ano passado, quando uma inspeção constatou que ele estava rompido em mais dois trechos: a 1.100 metros e a 500 metros da praia.
Em pelo menos um dos pontos rompidos havia um afastamento de 60 centímetros entre os tubos, por onde o esgoto não-tratado vazava dia e noite.
O conserto só foi contratado em setembro, por questões de burocracia interna, e começou em novembro, por conta das condições do mar.
A Sabesp abriu uma sindicância para apurar responsabilidades e descobrir quem vai pagar a conta de R$ 1,3 milhão do conserto.
Quando foi construído, o emissário custou US$ 15,5 milhões. A Ster e a Transpav-Codrasa não existem mais, segundo a Sabesp.
O conserto só termina em fevereiro, depois do Carnaval. Na altura de 500 metros de distância da praia, já há uma emenda de emergência feita, mas o esgoto ainda tem problemas de escoamento porque a areia invadiu o emissário e dificulta o trabalho.
Até fevereiro, portanto, os turistas que frequentam a Enseada, no Guarujá, vão conviver com uma praia poluída e imprópria para banhos de mar.
Boa parte dessa poluição vem do esgoto do emissário submarino.
A Sabesp reconhece que, nesse caso, não há muito o que fazer. "Se as empresas construtoras forem responsabilizadas na sindicância, vão pagar o conserto", diz Ariovaldo Camignani, presidente da companhia.
O mais provável, entretanto, é que a sindicância conclua por um conjunto de responsabilidades que inclui a própria Sabesp, por ter deixado a situação chegar aonde chegou.
(JNS)

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