São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercosul vai eleger 'capital financeira'

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O cronograma do Mercosul estabelece para 1997 uma série de acordos sobre a organização dos mercados de capital dentro do bloco econômico. E, entre os próximos passos, está a eleição da "capital financeira do Mercosul".
São Paulo, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago concorrem ao título. O cenário futuro, porém, deve garantir a essas cidades um segmento específico das finanças.
A capital paulista, impulsionada por sua Bolsa de Valores, ficaria com boa parte dos negócios de títulos futuros, derivados financeiros e commodities.
Por sua vez, a uruguaia Montevidéu pretende tornar-se a porta de entrada dos capitais estrangeiros, atraindo com facilidades fiscais os maiores bancos de investimento do mundo.
A tática já está dando certo: no ano passado, o Merrill Lynch, o mais importante banco de investimentos do globo, instalou sua sede para o Mercosul exatamente na Zona Franca de Montevidéu.
Além disso, o Uruguai está tratando que as fortunas argentinas e brasileiras tradicionalmente investidas em seu mercado continuem por lá, aproveitando o imposto baixo e o rendimento alto.
Cingapura do Mercosul
Já a capital chilena quer tornar-se o principal eixo de operações financeiras entre os chamados "tigres asiáticos" e o Mercosul.
Para tanto, desde 1995 implanta o projeto "Santiago Centro Financeiro", com uma estratégia de marketing bem definida.
"Cingapura tem um papel na Ásia que o Chile pretende desempenhar da mesma forma no Mercosul", disse o ministro da Economia chileno, Álvaro García.
O sistema planejado transformaria Santiago em um pólo de seguradoras e administradoras de fundos comuns e previdência privada.
O Chile tem como principais atrativos o risco-país muito baixo e a estabilidade econômica, mas também possui a desvantagem de suas pequenas proporções.
Buenos Aires entra na luta oferecendo maiores facilidades do que o Brasil na instalação de instituições estrangeiras e uma menor taxação para os lucros obtidos no mercado interno.
Na capital do país já estão, por exemplo, estabelecidos oito bancos brasileiros, enquanto seus similares argentinos não estão conseguindo penetrar no mercado vizinho.
Buenos Aires também não quer perder seu espaço no mercado de ações e cereais, modernizando suas leis para poder competir com as bolsas brasileiras.
A Bolsa de Valores portenha, apesar de bem menor que a paulistana em volume de investimento, apresenta melhores condições para que fundos estrangeiros cotizem no mercado local.
União Européia e Nafta
No Mercosul, pode repetir a mesma tendência de especialização de cada praça financeira que ocorreu na União Européia e no Nafta (Estados Unidos, Canadá e México).
Na Europa, Dublin transformou-se na cidade escolhida por investidores ingleses e norte-americanos, Londres concentra os commodities e as seguradoras, Frankfurt domina o mercado do marco e Luxemburgo fica com o segmento informal da emissões de dívidas e colocações de euroienes.
No Nafta, Chicago é a cidade favorita dos commodities, Nova York fica com o mercado de ações e Miami permanece como entrada de capitais mexicanos e outros latino-americanos.

Texto Anterior: Adeus ao milagre. Salve o Brasil real!
Próximo Texto: Decida qual é o melhor tipo de caderneta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.