São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Tupac Amaru se afasta da "via política"

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) chega à quarta semana de sua ocupação da casa do embaixador do Japão em Lima com poucas chances de sair da crise como um partido político.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, se depender da disposição do governo peruano, o MRTA dificilmente conseguirá seguir o caminho que, nos anos 90, garantiu a sobrevida para grupos guerrilheiros mundo afora.
"O povo cansou de terror. A miséria do país continua com ou sem ele, embora seja raiz para revoltas como a dos zapatistas no México. O MRTA passou do ponto para virar partido", afirmou o sociólogo Raúl González.
O historiador Diego Ríos, que estuda a esquerda latino-americana, concorda. "A pobreza cria as revoltas, não mais a ideologia. Mas o Peru não será a Guatemala."
Nicho na política
Ele se refere ao país cuja guerrilha acertou a paz com o governo e se prepara para entrar na política.
A Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca assinou, no dia 29 de dezembro, tratado no qual põe fim a 36 anos de luta contra o governo -guerra que deixou 150 mil mortos de ambos os lados.
Na Colômbia, o antes temido M-19 virou partido político com direito a entrega de armas nas ruas no começo da década. Depois de uma votação expressiva em 1991, virou grupo minoritário.
Os tupamarus do Uruguai, por sua vez, encontraram um pequeno nicho na política após serem destroçados pelo regime de força nos anos 70. Hoje têm um senador.
Hizbollah
Há um histórico comum de influência pela Guerra Fria sobre a guerrilha na América Latina.
O fim do apoio ideológico e financeiro soviético a Cuba encerrou todo um ciclo de guerrilhas -que então se ligaram ao tráfico e/ou vivem de ações espetaculares.
Mas os exemplos não se restringem às Américas.
No Líbano, a guerrilha do Hizbollah (Partido de Deus) continua ativa. Surgida na década de 80 para combater a invasão israelense do país, mantém suas atividades na zona ocupada do sul libanês.
Mas também virou partido político, com boa votação nas eleições do ano passado. Já é a terceira força política no Parlamento.
O IRA (Exército Republicano Irlandês) é caso semelhante. Mantém seus atentados visando minar o domínio britânico na Irlanda do Norte, mas tem forte atividade política -na figura do partido Sinn Fein, do líder Gerry Adams.

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