São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Harlem tenta provar vantagem de escolas só para meninas

Libération
de Paris

LUC LAMPRIÈRE

Todos os dias, a estudante negra Dania McDermott, 12, deixa o apartamento no Bronx onde vive com sua mãe e seu irmão menor, abaixo do barulhento metrô elevado, e caminha até o bairro de Spanish Harlem para uma escola nova em folha, instalada no alto de um edifício de escritórios.
Como suas colegas de classe, Dania já está acostumada às perguntas dos jornalistas; este ano, sua volta das férias foi televisionada.
Dania e 50 outras meninas de sua idade são as primeiras alunas de uma nova escola pública reservada às meninas, uma iniciativa piloto (financiada em grande medida por doações privadas) que representa também um retorno a uma prática antes abandonada, mas que hoje começa a retornar nos EUA.
Esse questionamento das escolas mistas é uma ruptura importante, já que o fim do ensino separado para meninos e meninas nas escolas públicas americanas coincidiu com o fim da segregação racial.
E, para muitos americanos, a aplicação do mesmo princípio de igualdade exige que seja proibida a separação de sexos e de raças na escola. Desde 1972, esse princípio constitucional proíbe, teoricamente, a alocação de fundos públicos a escolas que não sejam abertas a todos os alunos.
A escola de Dania (batizada, pomposamente, de "escola de liderança de jovens mulheres") é a primeira desse tipo em Nova York (Costa Leste dos EUA), onde as escolas públicas são mistas há anos.
Currículo
O projeto acentua especialmente o ensino de ciências, matemática e física, baseando-se em estudos realizados pela Fundação Norte-Americana de Educação de Mulheres que revelaram que as dificuldades enfrentadas pelas meninas nessas matérias estariam ligadas à inibição suscitada nelas pela presença de garotos nas salas de aula.
"Para se darem bem nessas disciplinas, elas precisam combater os estereótipos sexuais", observa um relatório recente da organização, que recomenda separar os sexos nas salas de aula para reduzir a pressão sobre as meninas.
"As conclusões dos estudos realizados em escolas particulares que continuam separando meninas e meninos são claras: as meninas que estudam em classes só de meninas tendem a obter resultados melhores do que aquelas que estudam em classes mistas, especialmente nas disciplinas científicas", afirma Harvey Newman, responsável pelo projeto piloto.
Além disso, diz ele, não é por acaso que a iniciativa tenha sido lançada no Harlem, visando uma população de baixa renda e composta, em sua maioria, por imigrantes, pois os mesmos estudos mostram que o desnível é ainda maior entre as meninas de famílias de baixa renda, e mais ainda entre as filhas de imigrantes de origem hispânica.
Mas a iniciativa não está sendo bem aceita por todos. "Nossa sociedade rejeitou a segregação, optando pela integração. Quer seja num ônibus, num restaurante ou numa escola, a admissão não pode ser recusada por motivos de raça, sexo ou origem nacional", afirma Normal Siegel, diretor executivo da União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu).
"Afirmar que todos os garotos prejudicam o processo de aprendizagem de todas as meninas devido a seu comportamento é aceitar um estereótipo. Ora, há 30 ou 40 anos este país luta para destruir os estereótipos baseados em cor de pele, sexo ou religião. Aceitar como modelo uma escola só para meninas é um enorme retrocesso."

Tradução Clara Allain

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