São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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HISTÓRIA DE ANOMALIAS

Em um país de escassa tradição partidária, como o Brasil, se há uma sigla que marcou profundamente a história pelo menos do último quarto de século essa foi MDB/PMDB. Primeiro, como a grande frente de oposição ao regime militar, o partido que chegou a reunir liberais, socialistas, social-democratas, ultra-esquerdistas, empresários e trabalhadores.
Depois, já como PMDB, foi o partido pelo qual passaram todos os presidentes da República do período democrático. Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso -todos foram em algum momento do PMDB, no qual Sarney ainda permanece. É esse partido que chega hoje a uma convenção nacional, sua máxima instância decisória, em profunda crise de identidade.
Tanto os próprios peemedebistas como cientistas políticos ouvidos pela Folha coincidiram em definir a legenda como uma federação de lideranças regionais, sem um projeto nacional ou um rosto que o encarne, como chegou a ser o de Ulysses Guimarães. Não obstante, o PMDB continua uma marca forte, o partido do maior número de deputados federais, senadores, prefeitos e vereadores. Seu problema não parece ser de quantidade, mas de qualidade.
Por mais que no mundo os partidos tenham sido obrigados a enfrentar uma nova realidade com o fim da Guerra Fria, eles continuam sendo referência fundamental no jogo político. No Brasil, não. O maior partido, o PMDB, é extremamente periférico no esquema de poder. Por um motivo simples: parece não saber o que quer. Tanto que, para a convenção de hoje, não deverá fechar questão em torno de tema que, ao menos para o mundo político, deveria ser simples: a reeleição para FHC.
O passado, o presente e o nebuloso futuro do PMDB contam, de alguma forma, a história das incongruências político-partidárias brasileiras, em especial o fato de que os partidos são conglomerados informes, com raras exceções. Se o foco está hoje no PMDB, é porque ele continua sendo o maior partido e, por extensão, o expoente maior de anomalias que minam a saúde do sistema político.

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