São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Hora da saudade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Suspeito que todos os que, por um motivo ou outro, se opuseram ao regime militar foram simpatizantes, ou até militantes, do MDB.
Militar exigia uma certa coragem, mas não a louca coragem de pegar em armas e jogar a vida. Não que militantes do MDB não tenham sido mortos ou torturados, mas foram violências não-institucionalizadas, ao contrário do que ocorria em relação ao pessoal da luta armada.
Até alguns simpatizantes do golpe de 1964, no princípio, acabaram depois no MDB/PMDB, casos, por exemplo, de Severo Gomes e Teotônio Vilella.
À coragem de opor-se ao autoritarismo contrapunha-se, de certo modo, a facilidade de não ser necessário, para estar no MDB, definir-se a favor de algo. Bastava ser contra algo (o regime militar).
É provável que essa seja a gênese da crise que hoje envolve o PMDB. A partir do fim do ciclo militar, o partido foi mais e mais convocado a tomar posições a favor e não apenas contra. Raramente conseguiu.
Foi ao mesmo tempo governo e oposição com José Sarney. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), aliás, atribui ao fato de o partido ter "um pé em cada canoa" o desastre eleitoral de Ulysses Guimarães em 1989.
O PMDB voltou a um momento de brilho fugaz quando pôde, outra vez, ser contra, no período agônico de Fernando Collor, para logo retornar à indefinição com Itamar Franco e, agora, com Fernando Henrique Cardoso.
O que há de notável nessa história de algumas glórias e muitas penas é que o PMDB sobrevive, contra todos os prognósticos e contra a lógica. É ainda um partido grande, mais gordo do que forte, é verdade, mas grande.
Talvez seja como seu nome mais simbólico, Ulysses Guimarães. Os jornalistas políticos decretamos incontáveis vezes a morte política de Ulysses. Mas ele morreu fisicamente antes de morrer politicamente. O risco, latente, é o PMDB apodrecer antes de morrer.

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