São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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A dança da reeleição

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Fernando Henrique e Carla Perez, a loira do Tchan, têm muito em comum. Está-se comparando uva com abacaxi, apresso-me em admitir. Mas insisto: algo une a dançarina do bumbum e o presidente do gogó.
Admita-se como verdadeira a teoria de Darwin. Carla é a evidência mais recente de que o homem -em sentido genérico, bem entendido- de fato evoluiu muito desde que os primatas deram os primeiros passos.
Beneficiado pela comparação com antecessores que não deixaram saudade, também Fernando Henrique é festejado como um protótipo evoluído de sua espécie. Conta com notáveis índices de aprovação popular.
Carla está para o pagode baiano assim como Fernando Henrique está para a reeleição, eis o que se deseja realçar. Ela massageia os olhos e vende discos. Ele encarna a estabilidade e vende a ilusão de dias melhores.
O Congresso interrompeu o recesso para executar em Brasília a dança do casuísmo. Discute-se o futuro de Fernando Henrique, não o princípio da reeleição.
Pergunta-se o seguinte: findo o seu mandato, Fernando Henrique deve ir para casa ou convém que se lhe dê um novo turno de quatro anos? Deve sair em 1998 ou deve ficar até 2002?
Nosso presidencialismo foi importado dos Estados Unidos. Copiou-se tudo, menos o mecanismo da reeleição. A Constituição de 1891 já anotava: os presidentes não poderiam ser reeleitos "para o período presidencial imediato."
Boa ou ruim, a regra é centenária. E está sendo rifada no mesmo balcão em que se comercializou o mandato de José Sarney. Esquece-se que o casuísmo de hoje será a regra geral de amanhã.
O problema é que o Brasil, pródigo na produção de bumbuns, não tem se notabilizado como celeiro de bons presidentes. Amanhã, que não se reclame da má sorte.

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