São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Para abafar crise, FHC diz que vota emenda dia 22

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo anunciou ontem que votará a emenda da reeleição em primeiro turno na Câmara na semana que vem, provavelmente no dia 22, quarta-feira.
Segundo a Folha apurou, o governo divulgou essa data apenas como forma de pressão e avalia que o dia mais provável para a votação, se a estratégia der certo, é 29 de janeiro.
A decisão de anunciar que a emenda seria colocada logo em plenário foi tomada pessoalmente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso depois de conversar com seus líderes no Congresso.
FHC não marcou um dia exato. Não tem segurança de ter os votos necessários. Isso ainda depende de como vai reagir a base do PMDB.
A cúpula tucana trabalha com o seguinte roteiro de prioridades: 1) contornar a crise com o PMDB e votar a emenda ainda em janeiro; 2) persistindo a crise, o governo acena com a realização de referendo, ou até de plebiscito, para atrair votos da oposição; 3) se mesmo assim a aprovação não for assegurada, o governo retira a emenda do Congresso para tentar reapresentá-la no último ano do mandato de FHC (98), seguindo estratégia adotada por Carlos Menem na Argentina.
O PMDB hoje ainda insiste em deixar a votação apenas para fevereiro, quando já teriam sido eleitos os novos presidentes da Câmara e do Senado.
Não houve avanços ontem nas tentativas de convencimento do PMDB. Apesar disso, FHC decidiu criar um fato político com a divulgação de sua estratégia.
"Se não tem prazo, não tem entendimento. E com prazo, o nosso grupo não se dispersa", resumiu o presidente do PFL, deputado José Jorge (PFL-PE), à Folha às 21h30 de ontem.
A idéia básica agora é preencher o debate político e ganhar tempo para negociar. O anúncio de ontem, na opinião do governo, impedirá que defensores da consulta popular e adversários da reeleição ocupem todo o noticiário.
Os governistas tentarão pôr em prática a "votação a prestações", estratégia descrita ontem pela Folha: votar o primeiro turno neste mês, esperar a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado em fevereiro e só depois submeter a emenda da reeleição à votação em segundo turno na Câmara.
O governo nega hoje, mas na última hora antes da votação em plenário deve aceitar a inclusão de um referendo na emenda da reeleição. Isso ajudaria a conquistar votos de vários partidos, especialmente do PPB, de Paulo Maluf.
Mutirão
A partir de agora, os governistas farão um mutirão para contar os votos que têm e reverter apoios perdidos nos últimos dias. O alvo principal é o PMDB.
Os peemedebistas não são contra a emenda da reeleição. Apenas querem que o presidente da República reafirme mais vezes em público que ficará de fora da disputa pela presidência do Senado.
"Recebi a missão de votar a emenda na próxima semana. Temos número para aprovar a reeleição a qualquer momento com tranquilidade", disse o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), depois de um encontro da cúpula pefelista com FHC ontem à tarde.
Logo depois do anúncio oficial, o PMDB reagiu.
"Vamos ver, ainda existe um impasse", disse o líder Michel Temer (SP). "Não podemos fazer conta de calendário", disse o deputado Aloysio Nunes (SP).
"O PMDB não tem condição de assegurar os votos necessários para aprovar a emenda na próxima semana", disse o vice-líder do PMDB, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN).
Contabilidade
Uma nova checagem dos votos foi feita ontem pela manhã na casa do presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). Os líderes aliados teriam avaliado que o governo não tinha sequer 300 votos. São necessários, no mínimo, 308 votos para aprovar a emenda.
Os líderes deixaram a reunião com uma relação dos votos nome a nome, acompanhada de observações. Segundo Inocêncio Oliveira, FHC dispunha de outros números, que dariam segurança para que a emenda seja votada em plenário.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), afirmou que o governo conseguiu votos em outros partidos além do PFL, PSDB e PMDB. Segundo dados de Aníbal, deputados do PSB, do PTB e do PPB também estão aderindo à tese da reeleição.

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