São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Nova York seja aqui

ALDAÍZA SPOSATI

Cresce a população que vive nas ruas de São Paulo. De acordo com dados oficiais, houve um incremento de 32% nos últimos cinco anos. Essas pessoas concentram-se em áreas onde podem obter alimentos ou realizar serviços como o de catar papel e papelão.
Resolver essa situação exige tanto oferta de empregos, oportunidades de renda, de moradia e de apoio familiar quanto a instalação em São Paulo de um programa de acolhida. Não se trata de confinamentos, mas de abrigos, casas de convivência, cooperativas de trabalho e de processos de apoio e de recuperação física e mental.
É preciso que São Paulo mantenha dignidade no acolhimento em abrigos e alojamentos e entenda que a qualquer brasileiro devem ser garantidos os direitos básicos de cidadania.
A gestão Maluf não entendeu assim: reduziu convênios com organizações sociais que trabalham com a população de rua, remunerou as entidades com o valor insignificante de R$ 1 por dia de atendimento e vetou projeto de lei de minha autoria que garante um conjunto de serviços e direitos a essa população.
Pior, o secretário da área, Adail Vetorazzo, finaliza sua gestão achincalhando as reivindicações da população abrigada, quase repetindo o velho e elitista jargão colonial: "Nem gente são para poder se expressar".
Em coluna nesta Folha (15/12), Gilberto Dimenstein relata a experiência de Nova York no combate à exclusão da população de rua. A prefeitura criou um programa de contratação dessas pessoas para a realização de atividades que não exigem qualificação, como limpar parques e ruas. Desenvolve, ainda, cursos de reciclagem, educação profissional, tratamento contra as drogas e o alcoolismo.
O novo prefeito tem dito que quer melhorar o impacto visual de São Paulo, o que inclui "soluções para a população de rua". Espero que essas soluções não signifiquem a manutenção da política de esconder o problema, ao remover e confinar essa população.
Caso a intenção do prefeito seja realmente criar uma rede de serviços para esse segmento, tanto em caráter emergencial quanto permanente, com princípios básicos de dignidade e cidadania, sugiro que somemos forças para derrubar o veto do antigo prefeito ao meu projeto de lei, instituindo uma política efetiva de respeito a todos os cidadãos paulistanos.
Dessa forma estaremos entendendo a política social como um direito e não como uma benemerência. Como escreveu Dimenstein, precisamos decidir "se preferimos que essas pessoas virem mendigos, ladrões ou traficantes, jogando seus filhos no círculo da miséria. Ou virem cidadãos".

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