São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997 |
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"Casa de Bonecas" só repete fórmulas
CELSO FIORAVANTE
Tem a menina feia e desprezada por toda a turma? Tem. Ela tem um irmão "nerd"? Tem. O colégio onde estuda tem o rebelde sem causa? Tem. Tem o amor impossível entre a protagonista e o rebelde? Tem. O filme tem o "hype" da mídia? Tem. Pena que "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" ofereça bem pouco além disso. A protagonista Dawn Wiener (Heather Matarazzo) é a menina feia de subúrbio que passa toda a pré-adolescência tentando escapar das perseguições que sofre na escola e em casa. Ela é bem feia mesmo. Usa uns óculos cafonas e se veste muito mal. Dessa forma, não pode fazer parte das turmas. Isso, para um quase adolescente -animal que só sabe viver em bando- é o fim. Na escola, é rejeitada por todos. Nunca encontra lugar para sentar no refeitório e seu armário é o único grafitado. Em casa não é melhor. Parece uma sucursal do inferno, que é a escola. Seus pais têm uma clara predileção pela filha caçula. A trama se desenvolve assim, na tentativa de Dawn de ser aceita e assim formar sua personalidade em paz. É ela quem salva o filme da obviedade e lhe dá certo interesse, ao retratar de maneira sensível e perspicaz os amores, perdas e mais perdas de uma pré-adolescente. "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" não é a estréia de Todd Solondz na direção. Natural de Newark, um subúrbio de New Jersey, cidade que pode ser considerada um subúrbio de Nova York, Solondz dirigiu alguns curtas em sua passagem pela New York University. Um deles, "Schatt's Last Shot", foi exibido em Los Angeles e chamou a atenção de produtores, que lhe deram um contrato para seis longas. Antes, tenta a carreira de ator e faz um pequeno papel em "De Caso com a Máfia" (1988). O primeiro longa em LA, "Fear, Anxiety and Depression", de 1989, foi um fracasso e forçou seu retorno a New Jersey, onde passou a dar aulas de inglês para imigrantes russos. Sundance "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" surgiu graças a uma amiga do diretor, que se ofereceu para conseguir dinheiro para uma produção independente. O filme tem características auto-biográficas, mas Solondz explicou em várias entrevistas por que escolheu uma menina como protagonista: "Filmes com meninas têm mais chances de boa bilheteria". Bem se vê que ele tinha pouco a dizer sobre o filme. O filme ganhou repercussão mundial e veio parar no Brasil graças ao Sundance Film Festival, o prestigioso festival de cinema independente que lhe deu o Grande Prêmio do Júri no ano passado. O festival foi criado pelo cineasta Robert Redford e iniciou ontem, na cidade Salt Lake City, sua 17ª edição. O evento já teve bons momentos, como a premiação dos irmãos Coen ("Gosto de Sangue") em 1985, mas com a assimilação do cinema independente por mercado, público e mídia, se institucionalizou e já premia diretores menores, como esse Solondz. Filme: "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" Diretor: Todd Solondz Elenco: Heather Matarazzo, Daria Kalinina, Brendan Sexton Jr., Matthew Faber Estréia: hoje, no Espaço Unibanco de Cinema, sala 2 Texto Anterior: "Resgate" traz Gibson mais maduro Próximo Texto: 'Baal' inicia inesperado renascimento brechtiano Índice |
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