São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997 |
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Wenders termina filme contra violência
RAUL MOREIRA
Para criar uma "película-antídoto" a "Pulp Fiction", Wenders explora a reação de um cidadão comum de Los Angeles à violência e ao caos da sua cidade. O detalhe é que é um filme sobre violência urbana que em nenhum momento apresenta cenas violentas. "Em geral consideram a violência do cinema uma coisa óbvia, mas ninguém nunca pensou: e se não fosse assim? Meu filme insinua sobre isso. O que pode acontecer se não mostrarmos nenhuma violência?", se interroga Wenders à imprensa italiana. Wenders reage à violência em um momento em que filmes ao estilo Tarantino dominam o horizonte cinematográfico, ou mesmo o binômio sexo-violência, como é "Crash", de David Cronemberg, acaba ganhando ares de cult. O diretor alemão diz que aprecia a inteligência e a ironia do autor de "Pulp Fiction", mas o acusa de "haver superado os limites", criando um modelo perigoso. "Qualquer diretor que o imita se sente no dever de degenerar. Isso é grave porque a violência nos filmes é como uma droga, cria dependência", acusa Wenders. A cruzada do diretor contra a violência não nasce do nada. Quando jovem, ele estudou teologia na Alemanha. Wenders também cultua o filósofo austríaco Karl Popper, já morto, que dizia "que a violência nas telas é tão grande que as pessoas já não distinguem a ficção da realidade". A primeira iniciativa de Wenders contra a violência do cinema aconteceu em 92, quando presidia a Academia Cinematográfica Européia. Naquele período, ele propôs banir da Europa todos os filmes norte-americanos considerados violentos. Os diretores e produtores do velho mundo reagiram com frieza. Mas Wenders não se rendeu. Algum tempo depois veio a idéia de fazer um filme contra a situação quando morou em Los Angeles. Lá ele percebeu que seus amigos -pessoas simples e pacatas- haviam se transformando em paranóicos urbanos, cada qual com a sua história de horror. Na mesma Los Angeles, em um night club, Wenders foi apresentado por Bono, líder da banda irlandesa U2, ao escritor Nicholas Klein, um obcecado conta a violência do cinema. Na conversa entre os três, conta o diretor, Bono disse que não conseguia assistir até o fim um filme gratuitamente violento. Daí nasceu o desafio de fazer um filme sobre violência sem mostrar nenhuma cena de violência. O "cast" é formado por Gabriel Byrne, protagonista de "Os Suspeitos", considerado o mais intelectual dos novos sex symbols do cinema. Os outros atores são Bill Pullmann, que fez o presidente dos EUA em "Independence Day", e Andy MacDowell. Texto Anterior: Biografia liberta Eastwood de estigmas Próximo Texto: "Spitfire Grill" prega volta dos EUA ao útero Índice |
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