São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Viagem submarina

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - Os problemas que atormentam os usuários das linhas telefônicas remetem o Rio para o século passado. Há 120 anos, Machado de Assis já aproveitava o tema da precariedade tecnológica para fazer uma crônica bem-humorada.
Os constantes defeitos no cabo submarino que ligava o Brasil à Europa serviram de mote para o escritor imaginar um diálogo entre dois homens, um no Rio, outro em Lisboa, por meio do telégrafo. A certa altura da conversa, sem perceber que a linha já havia caído, os dois continuam a enviar mensagens. Enquanto um pergunta sobre a situação do ministério inglês, o outro relata que houve destruição das azeitonas e questiona sobre o comportamento do mercado carioca.
O cabo submarino deve ter exercido mais impacto sobre o mundo do que desperta agora a Internet, espécie de cabo no ciberespaço. Naquela época, tratava-se da primeira ligação instantânea entre os continentes, significando uma troca de informações numa velocidade nunca imaginada.
A Internet, apesar de todas as possibilidades que propicia, nasceu num momento em que outras tecnologias de comunicação já haviam reduzido as dimensões do planeta. Além disso, a cada avanço da tecnologia diminui a sua capacidade de fascínio e aumenta a sensação de que tudo rapidamente se torna obsoleto, ultrapassado.
Talvez aí se possa encontrar algo de positivo nos constantes defeitos das linhas da Telerj, aproveitando o bom humor machadiano. Os defeitos, que nunca são superados, aproximam os internautas de hoje dos telegrafistas.
São uma ponte entre o passado e o presente, conservando um pouco do encanto tecnológico. O prazer do internauta que consegue se conectar na rede deve ser semelhante ao do telegrafista que restabeleceu a ligação com Lisboa.

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