São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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DOAÇÃO PRESUMIDA

Desde que a medicina avançou suficientemente para popularizar as técnicas dos transplantes, uma das dificuldades para realizá-los em larga escala tem sido a escassez de órgãos, cujo desperdício diário contrasta com a longa espera enfrentada pelos possíveis receptores.
A aprovação pelo Senado do projeto que torna todos os brasileiros doadores, a menos que registrem oficialmente sua oposição, enseja a possibilidade de se elevar a oferta de órgãos em todo o país. Considerando as famílias que, consultadas, impedem hoje a retirada dos órgãos de um parente em morte cerebral, avalia-se que a nova lei aumentaria, no mínimo, em 30% a oferta de órgãos.
A decisão dos senadores causou grande polêmica entre representantes da comunidade médica, o que deve ser considerado. Alguns destacam a falta de cultura da população, principalmente a mais carente, quanto à prática de se manifestar sobre um direito. Muitas pessoas que não quisessem dispor do seu corpo mesmo depois de sua morte não registrariam esse seu desejo pela simples ignorância sobre como fazê-lo.
Mas é preciso admitir que a nova lei poderá criar uma nova cultura sobre os transplantes de órgãos no país. Exigirá dos próprios médicos maior determinação e eficiência na captação dos órgãos e na notificação às equipes competentes sobre a existência de um doador disponível.
Pesquisa Datafolha, realizada em 1995, mostrou que 75% dos paulistanos desejam doar seus órgãos. Mas menos de um décimo do número de possíveis doadores é aproveitado. Algo está errado, e certamente a culpa não pode ser imputada apenas à legislação. Mas a mudança decidida pelo Senado poderá ser benéfica, ao tornar a doação de órgãos um processo menos burocrático.
Resta ainda cobrar por um aumento da infra-estrutura -número de leitos e de equipes médicas qualificadas- para a realização dos transplantes. O esforço para vencer todas as barreiras nessa área deve ser amplo e abranger desde a doação até os recursos necessários às cirurgias.

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