São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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Sarney perdeu o cavalo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No final do regime militar, José Sarney era presidente da Arena. Houve uma reunião para decidir sobre a sucessão de Figueiredo, Sarney botou uma arma no bolso e foi para a reunião disposto a virar -e a socar- a mesa. Nem foi preciso apelar para a arma de fogo que levara.
Poucos meses depois era lançado à vice-presidência na chapa de Tancredo. E logo depois o líder da situação tornava-se presidente da República pela oposição.
Evidente que não lhe faltavam qualidades políticas para tal e tanto. Mas isso não basta. É preciso aproveitar a oportunidade, o cavalo selado que passa à porta e que nem sempre passa duas vezes. Pois com Sarney -considerado homem de sorte- passou.
Nesta semana, ao ser chamado com outros líderes do PMDB para ouvir o carão presidencial, Sarney poderia montar no cavalo selado que lhe passou à frente. Bastava se retirar da mesa.
Criaria um caso, a crise seria maior -mas ele arrebataria das mãos de Maluf a liderança da oposição. Quem é oposição neste país fica meio sem jeito em admitir a liderança do ex-prefeito de São Paulo, homem que historicamente pertenceu à situação.
A biografia de Sarney tem pontos parecidos com a de Maluf, mas afinal ele foi companheiro de chapa de Tancredo. Como presidente, durante meses teve popularidade bem maior do que a de FHC.
A ruptura com FHC, nesta altura da luta, daria a Sarney não apenas a liderança de todos os segmentos contra o governo, mas uma aura de altivez e independência que, mais cedo ou mais tarde, o tornaria um candidato presidencial poderosíssimo.
Quanto a FHC, depois de jurar que reeleição não era com ele (nem com dona Ruth), que reeleição era coisa do Congresso, convoca 15 congressistas para exigir apoio não a uma medida de governo, mas a uma ambição pessoal. Só ele ainda não percebeu o desgaste de tão repetida mentira.

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