São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Mal surgiu na África

DA REPORTAGEM LOCAL

A anemia falciforme é resultado da alteração de um gene responsável pela hemoglobina, ocorrida provavelmente na África.
Um gene contém as instruções para fabricar o organismo e as substâncias que o fazem funcionar. A hemoglobina é uma proteína das células vermelhas do sangue. Ela que faz com que essas células sejam vermelhas e, mais importante, é capaz de captar o oxigênio nos pulmões e distribuí-lo pelo organismo.
Sem oxigênio, os órgãos não podem "queimar" energia e não funcionam bem, ou entram em pane.
As pessoas que nascem com anemia falciforme têm um gene alterado, que produz uma hemoglobina defeituosa e, portanto, uma célula vermelha defeituosa.
A célula com problema também é capaz de captar oxigênio. Mas, quando o libera nos órgãos, essas células "esticam": ficam com o forma de foice: falciformes.
As células normais parecem uma pizza de borda grossa, e são flexíveis: são capazes de passar mesmo pelas veias e artérias mais finas. As células falciformes podem entupir esses vasos, o que deixa órgãos do corpo sem oxigênio.
Ao captar mais oxigênio, as células falciformes voltam ao normal. Mas, depois de "esticar e arredondar" várias vezes, o baço, órgão que controla a qualidade das células vermelhas, captura e destrói as células falciformes. Com menos células vermelhas, a pessoa se torna anêmica: pálida e sem energia.
África e malária
Algumas pessoas são portadoras da doença -isto é, têm o traço falciforme em seus genes, mas são saudáveis. Mas pessoas com traço falciforme que se casam entre elas podem ter filhos com a doença.
Acredita-se que as pessoas com traço falciforme são mais protegidas contra a malária, doença transmitida pelo mosquito anofelino, que injeta um parasita no organismo humano ao picá-lo. No seu percurso pelo corpo, o parasita invade células vermelhas.
Cientistas acreditam que, em algum momento da história, houve uma mutação genética em pessoas de uma população africana que morava numa região afetada pela malária. Foi nesse momento que os genes foram alterados e passaram a causar a anemia falciforme.
Como certas pessoas que tinham o gene defeituoso também eram mais protegidas contra a malária, passaram a sobreviver indivíduos com as duas características: "à prova de malária" e portadores do gene da anemia falciforme. Essas características passaram a ser transmitidas de geração a geração.
Outras populações que habitavam regiões de malária, como os países mediterrâneos (Itália, Grécia, norte da África) ou árabes, também têm a falciforme e outras doenças ligadas à hemoglobina.

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