São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Contas otimistas fazem o governo apostar no dia 29

Planalto computa 28 votos pró-reeleição em apenas uma semana

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comando político do governo Fernando Henrique Cardoso computou um acréscimo de 28 votos a favor da emenda da reeleição no prazo de uma semana (de 16 a 23 deste mês).
Esse dado levou o governo a apostar tudo na votação no dia 29.
O placar do governo, obtido pela Folha, apontou 320 votos certos da favor da reeleição no dia 23. Uma semana antes, os líderes governistas computavam 292 (16 votos a menos que o necessário).
Na reta final, o maior número de adesões veio do PMDB (12), seguido do PPB (5). Mas também surgiram aliados em outros seis partidos. A sensação de virada tomou conta dos governistas.
O custo
O comando pró-reeleição avalia que a adesão de parlamentares à emenda que favorece FHC tem três motivos básicos:
1 - A pressão das bases sobre os parlamentares. A propaganda pró-reeleição lançada pelos institutos Tancredo Neves (PFL) e Teotonio Vilela (PSDB), com nítido apoio a FHC, teria criado um clima favorável à tese nas bases.
2 - A proximidade da votação faz com que os parlamentares interessados em negociar o seu voto tomem uma decisão. O governo sempre disse que queria votar a emenda em janeiro. Quem não negociar agora, não negocia mais.
3 - O presidente da República autorizou os líderes e articuladores da reeleição a negociar com deputados a liberação de verbas já aprovadas e cargos de segundo e terceiro escalões nos Estados. Essas moedas já foram usadas.
Crítico
A data de 16 de janeiro foi um momento crítico do projeto da reeleição para FHC. Ainda repercutia com força a Convenção Nacional do PMDB (dia 12) que determinou aos seus filiados o adiamento da votação para depois de 15 de fevereiro.
O líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), conseguiu os seis votos do partido na comissão especial que aprovou a emenda por 19 votos a 11.
No mesmo dia, porém, Temer disse que precisava de tempo para negociar com o partido a votação em plenário. Os senadores pressionavam os deputados a adiar a votação para fevereiro.
Reunidos na casa do presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), no dia 16, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) e os líderes governistas concluíram que não tinham os votos necessários para aprovar a emenda.
Para manter o clima de otimismo, anunciaram que votariam a emenda em plenário no dia 22.
Números
Motta deixou a reunião do último dia 23 exibindo sorridente uma sacola de papel que era observada por todos. Ali dentro estavam os números que indicavam a eventual vitória na votação do dia 29.
Na reunião com os líderes, Motta repassou as bancadas deputado por deputado. Na planilha do governo está escrito o nome de um, dois ou três "operadores" ao lado de cada deputado.
Os "operadores" fazem o contato direto. Falam sempre da importância da reeleição para o governo e para o país, mas também negociam cargos e verbas.
Entre eles estão Motta, o ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos), Luís Eduardo, o secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge Caldas, ministros, governadores e líderes do PMDB, PSDB e PFL.
O principal "operador" no PPB é o ministro Francisco Dornelles (Indústria, Comércio e Turismo). Temer se destaca no PMDB, Motta no PSDB e Luís Eduardo no PFL.

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