São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Mulher vira 'namorada' para ajudar gay

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ajudar o amigo gay enrustido a manter as aparências é com elas mesmo. Sempre que o rapaz precisa de uma "namorada" para apresentar à família, ou acompanhá-lo a um compromisso profissional ou social, ele sabe que pode contar com essas amigas.
"Já fiz papel de 'namorada' algumas vezes e me diverti muito", conta Vanessa Lopes, 27, que trabalha em loja de roupas.
"A gente se transforma na grande esperança de conversão do cara", diz Vanessa.
Ela lembra de seu último "namoro" com um gay. "Saíamos direto e ele me pediu para deixar as pessoas pensarem que nós estávamos namorando", conta.
As reações foram variadas. "Tinha gente que vinha avisar que ele era gay, para eu 'tomar cuidado', e gente que achava que ele tinha se regenerado", lembra.
O amigo gay de Vanessa, por sua vez, experimentou um poder diferente. "Os meninos que estavam a fim de mim ficavam com ciúmes", ela conta. "Eu ainda o fazia de escudo contra inconvenientes."
Havia desencontros também. "Meu amigo ficou a fim de um cara que era a fim de mim", lembra. "Não rolou nada com ninguém."
Paixão pela categoria
No caso da gerente de vendas Isabel Piza, 27, quem fica a fim é ela. "Ajudei tantos amigos gays a 'fazer linha' (passar por heterossexuais), que acabei me apaixonando de verdade por alguns deles."
Seu último namorado exclusivamente heterossexual mentia tanto quanto os homossexuais que "fazem linha".
Isabel descobriu isso quando saiu com um "namorado" gay e os "primos machões dele" para dançar e acabou encontrando seu namorado de verdade na boate "careta" (não gay).
"Ele disse para mim que não sairia naquela noite, porque estava com dor de cabeça, e por isso foi um choque encontrá-lo", lembra.
"Tive vontade de fazer um escândalo, esbofeteá-lo, mas me controlei para não colocar a história do meu amigo gay a perder."
"Naquele momento, a mentira dele era mais importante do que a do meu namorado bofe (homem heterossexual)", avalia.
Amor de mãe
Mentiras sinceras são muito bem vindas pelos pais de alguns gays, segundo a empresária Nissia Garcia, 40. Por isso, ela capricha.
"Finjo até que estou com ciúme", conta. "Um amigo me pediu para ligar de vez em quando para a casa dele e eu fiz."
"Ligava sempre nas horas em que ele não estava, de propósito, e perguntava para a mãe dele, indignada: 'Mas onde ele se meteu?"'
Nissia afirma que funcionava muito bem."Ficamos amicíssimas", diz. "Ela me amava."
Outra que fez direitinho o papel de namorada, mas só por uma noite, foi a designer Patrícia Rezende, 29. "Um amigo do interior precisou de mim quando inaugurou uma galeria de arte e eu fui."
"'Namorei' o namorado dele e uma amiga 'ficou' com ele (o marchand)", diz. "Os dois (o casal gay) não paravam de se olhar, apaixonados, mas funcionou."
"Eles nos apresentaram aos parentes e clientes, o maior faz-de-conta", diz. "Ninguém diz que os dois são gays -eles não dão a menor 'pinta' (soltar a franga)."
A maioria das mulheres que "namoram" gays faz isso por amizade, mas há também quem queira sua parte em dinheiro.
É o caso da secretária executiva Cristina Vieira, 32. Na semana passada, ela anunciou seus serviços no Classline da Folha (leia texto ao lado).

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