São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Fiscalização é deficiente no litoral norte

SONIA MONTEIRO
DA FOLHA VALE

Os alimentos oferecidos aos turistas nas praias do litoral norte não passam por fiscalização rígida. Sorvetes, sanduíches e camarão frito, por exemplo, acabam fora do controle da saúde pública.
A falta de fiscalização atinge até a água consumida na região. O litoral norte tem apenas 73 agentes para fiscalizar alimentos consumidos por mais de 1,5 milhão de turistas nas 152 praias da região.
Em São Sebastião, não é permitida a venda de frituras nas praias, porém na última terça, a Folha constatou quatro ambulantes vendendo camarão frito e salgadinhos na praia de Juqueí, no período da manhã.
A contaminação de alimentos e da água ficou evidente nos últimos 15 dias, com a intoxicação de 445 pessoas, segundo números oficiais, na costa sul de São Sebastião -local considerado como o "paraíso" do litoral norte.
Eles foram intoxicados pelo consumo de água e sorvete contaminados por coliformes fecais.
Segundo os médicos, é possível que mais de 500 pessoas tenham tido intoxicação alimentar.
O secretário da Saúde de São Sebastião, Juan Pons Garcia, disse que o surto foi um dos maiores já registrados no município.
Para ele, o caso é apenas um reflexo do abandono do litoral norte pelo governo do Estado.
A Sabesp distribui água para 80% da população da região. Os outros 20% consomem água de fontes não-tratadas.
População
A população do litoral norte soma 170 mil habitantes nas quatro cidades -Caraguatatuba, Ubatuba, São Sebastião e Ilhabela.
Na temporada, o número de pessoas triplica e a água tratada é insuficiente para a demanda.
O litoral é a região mais crítica do Estado, segundo o prefeito de São Sebastião, João Siqueira (PSB).
"De Pitangueiras até Boracéia não temos nem um metro de esgoto tratado."
Segundo o prefeito, a maior preocupação da região é com a água distribuída para a população.
A Sabesp tem programa de ampliação da rede de água e esgoto implantada no litoral.
Ambulantes
A falta de estrutura para fiscalização ajuda na proliferação dos ambulantes e coloca em risco a saúde dos turistas.
A maioria dos produtos vendidos são colocados em bandejas e cestas.
Sem proteção, os alimentos são expostos a insetos, sujeitos à contaminação.
O garoto Márcio Luiz dos Reis, 12, vende camarão na praia Martin de Sá, em Caraguatatuba, em bandeja coberta apenas por um pano.
Ele disse que o camarão é preparado por sua mãe pela manhã.
O menino só retorna para casa após vender as 30 unidades da bandeja.
A maioria dos ambulantes garante que tem licença para trabalhar nas praias, mas não mostra o documento. As prefeituras de Caraguatatuba e São Sebastião não concedem licença para a venda de alimentos em bandejas ou cestas.
Em Caraguatatuba, os ambulantes que forem flagrados vendendo comida têm a mercadoria apreendida e enviada para análise da Vigilância Sanitária. Em São Sebastião, também não é permitida a venda de frituras.
Os produtos são apreendidos, inutilizados com areia e depois jogados no lixo.
Na cidade de Ilhabela, os fiscais barram os ambulantes na balsa para impedir que entrem na cidade.
As prefeituras reconhecem que a fiscalização nas praias é precária em função do baixo número de fiscais para as vistorias.

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