São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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"Horror" seduz franceses

BETINA BERNARDES
DE PARIS

A francesa Viviane Forrester, no entanto, conseguiu uma proeza. Sua obra vendeu 170 mil exemplares na França de setembro à primeira semana de janeiro e ocupa o primeiro lugar da lista de livros de não-ficção mais vendidos. Já foi traduzido para sete línguas e a autora ganhou o prestigioso prêmio Médicis de ensaio.
Forrester trata de um assunto árido, o desemprego. Se engana quem pensa que o livro se tornou popular por oferecer alternativas para o problema.
A autora não dá receitas. Apenas constata uma situação. Escritora e crítica literária do jornal "Le Monde", ela construiu sua carreira fazendo romances e ensaios, entre os quais um sobre o pintor Van Gogh.
Aos 71 anos e com 12 livros já publicados, decidiu encarar de frente a economia, sem procurar poupar ninguém.
"É a primeira vez na história do planeta que o conjunto dos homens não é indispensável para fazer andar o mundo e para produzir o lucro", diz.
O trabalho, tal qual é concebido, como um emprego e salários, estaria condenado.
Para a autora, o mundo não está passando por uma crise de emprego, mas se encontra numa "mutação de civilização".
"Antes, havia a exploração pelo trabalho. Passamos da exploração à exclusão, e da exclusão podemos chegar à eliminação, no caso de uma ditadura. Vivemos em uma sociedade que é cada vez mais puramente econômica, e nessa economia nós somos o supérfluo."
Forrester, que nunca ocupou nenhum cargo político ou público, reclama um contra-poder à uma "lógica única" que domina a sociedade.
A escritora se revolta contra a adoção de certas palavras por essa lógica.
O termo flexibilidade, por exemplo. "Flexível quer dizer doce, gentil, mas na verdade a flexibilidade do trabalho se trata de qualquer coisa feroz, inflexível, sinônimo de livre demissão", afirma.
"Querem nos fazer dizer o que o outro pensa, e querem nos fazer crer que pensamos isso também."
Forrester não esperava seu enorme sucesso. No Canadá, foi recepcionada pelo ministro do Trabalho.
Seu livro era exibido nas ruas nas passeatas por mais empregos de outubro do ano passado em Paris. A obra deve se tornar um filme dirigido por Marcel Ophuls.
A autora já recebeu mais de 500 cartas. O conteúdo é praticamente o mesmo em todas elas: "Finalmente, alguém traduziu o que eu pensava", dizem os leitores.
Analistas atribuem ao fato de Forrester ser uma pessoa comum, que não pertence ao establishment político e econômico, a sua credibilidade junto ao público.
A autora tem viajado a várias partes da Europa, convidada para fazer palestras sobre a obra.

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