São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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"Útil quer dizer rentável"

DE PARIS

Leia abaixo trechos da entrevista que Viviane Forrester concedeu à Folha.

Folha - Como a senhora se interessou por escrever um livro sobre economia?
Viviane Forrester - Há 17 anos, escrevi um livro que se aproximava da crítica política, "A Violência da Calma". A questão política me importava muito, sobretudo partindo das pessoas, não da teoria. Partindo do desespero. Tinha algumas idéias e queria sustentá-las sobre fatos e documentos. Não queria aceitar uma imagem que me era dada, e o que encontrei era pior do que minha intuição dizia.
Folha - A senhora é pessimista?
Forrester - Não. Se fosse pessimista, não teria escrito esse livro. Os pessimistas são aqueles que não criticam o que se passa atualmente, que aceitam quando lhe dizem que não há alternativas e que as coisas são assim mesmo e não podemos fazer nada. Se aceitamos isso, é verdadeiramente o pessimismo, porque vemos a infelicidade e a angústia que se abatem sobre as pessoas.
Folha - Mas a senhora acha que estamos na era do fim do trabalho.
Forrester - Quando eu digo trabalho, digo emprego, assalariados. Em 15 anos, o desemprego nos países do G7, os mais ricos do mundo, dobrou. Nós vemos sempre as mesmas promessas, "vamos restabelecer o mercado de emprego", e essas promessas são muito modestas em vista da situação. Mesmo que elas fossem realizadas, seria preciso décadas para chegar a uma situação mais ou menos decente. Os desempregados sempre tiveram vergonha de estar desempregados, e as pessoas que têm trabalho temem perdê-lo. Essa vergonha e esse medo deveriam ser cotados em Bolsa, porque são elementos importantes do lucro.
Folha - Não há como sair dessa situação?
Forrester - Tentei fazer uma constatação. As pessoas querem sempre achar primeiro a solução, antes de encontrar a boa questão. Não acho que se deva dar soluções a questões mal colocadas. Tenho vontade de encontrar as boas questões. Por exemplo, será que não podemos pensar a sociedade a partir do fato de que o trabalho desaparece?
Folha - Os economistas falharam em sua missão?
Forrester - Economistas são o termômetro, não a febre. Há algum tempo, era uma utopia a idéia de que não haveria mais necessidade de emprego, que seríamos liberados do trabalho assalariado. E quando isso acontece, é um pesadelo. Tenho sempre a impressão de ouvir que é preciso merecer ter o direito de viver. E que a resposta é, sim, é preciso ser útil. No entanto, útil quer dizer rentável. Na França, serão suprimidos 5.000 postos de professores. Os professores são muito úteis, mas os postos não são rentáveis.
Folha - Era impossível, antes, imaginar que o sistema liberal poderia chegar a esse ponto?
Forrester - Sim, era impossível. Estamos longe de um tipo de drama que poderia se tornar uma tragédia como a eliminação.

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