São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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A mulher, o jovem e o desemprego

ARNALDO MADEIRA

O desemprego preocupa a todos que analisam a realidade contemporânea neste final de século. Os dados são alarmantes. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há 1 bilhão de pessoas que não têm emprego ou estão subempregadas, ou seja, 16,66% da população do globo.
Em relação ao Brasil, segundo dados do IBGE, o desemprego atinge cerca de 5% da População Economicamente Ativa, índice que todos nós pretendemos ver baixar.
É natural, por isso, que uma personalidade tão importante na vida nacional como o senador José Sarney, ex-presidente da República, neste jornal, na coluna intitulada "O bingão do desemprego" (15/11), tenha trazido à baila esse tema tão candente.
O ex-presidente está coberto de razão ao advertir e protestar contra o desemprego em massa, fenômeno contra o qual até hoje não foram encontradas soluções válidas.
Contudo, o que não consigo aplaudir nesse artigo do presidente do Senado é o fato de pretender equacionar uma política contra o desemprego a partir de uma análise simplificadora de um problema assaz complexo.
Eis a linha de seu raciocínio: o desemprego é a consequência, a filha natural e dileta do neoliberalismo, aqui e em além-mar; e, com a divisa "delenda neoliberalismo", o ilustre senador investe... contra a política do presidente Fernando Henrique Cardoso!
Nos embates políticos, é fácil ganhar aplausos generalizados quando as questões são simplificadas, quando um mote espraia-se como um oceano para servir como fecho de ouro nas perorações dos discursos. Todavia, sabemos que os motes pouco servem na hora de traçar políticas efetivas de Estados.
Hoje, surgem aspectos significativos que anteriormente eram deixados de lado. Duas advertências ganham espaço, inclusive na mídia.
O jornalista Clóvis Rossi, na mesma Folha, com justa razão alertou para o papel do componente demográfico nos crescentes índices de desemprego. Apontou como uma de suas causas o fenômeno relativamente novo da maior afluência de mão-de-obra feminina no mercado. A isso pode-se acrescentar o aumento da pressão dos jovens sobre um mercado já bastante seletivo.
Esses componentes minimizam muito a explicação centrada só no avanço tecnológico. A advertência de Clóvis Rossi foi baseada em informações da Europa, mas os dados da Grande São Paulo, da Fundação Seade, mostram que o fenômeno se manifesta entre nós.
Em outubro de 1990, era de 11,3% a taxa de desemprego feminino; em 96, para o mesmo mês, o valor ascendeu para 16,6%. Esse nível de desemprego cresceu não porque tenha caído o número de postos oferecidos às mulheres, pois estes multiplicaram-se com surpreendente velocidade.
O que houve? Nesse período, aumentou numa velocidade maior o número de mulheres dispostas a trabalhar! Os postos que mais cresceram em ofertas para as mulheres concentram-se nos setores de serviços, sobretudo de alimentação, saúde e educação.
A crescente disposição das mulheres para o trabalho remunerado é resultado de um conjunto complexo de razões, entre as quais pesa muito a luta por um lugar mais igualitário na sociedade.
Em relação aos jovens, a situação é outra. Em outubro de 90, a taxa, já alta, era de 13,9%. Ela saltou para 20,6% em outubro de 96.
Essa taxa de desemprego eleva-se pela ação conjugada de dois fatores: eles não têm escolaridade nem experiência para o ingresso no mercado competitivo e também são, hoje, em número maior do que no final da década passada.
É inegável a existência do chamado desemprego estrutural, decorrente dos avanços tecnológicos que claramente eliminam postos de trabalho na indústria paulista.
Mas, hoje, os aspectos que assinalo -sobre mulheres e jovens- explicitam parte da complexidade da questão do desemprego e da evolução de suas taxas.
Além disso, convém lembrar ser difícil saber quantos postos de trabalho na Grande São Paulo foram eliminados em virtude da mudança física das indústrias (para outros Estados e para o interior paulista) e quanto realmente decorre das mudanças tecnológicas.
Em resumo, mais do que causticar um suposto neoliberalismo na política do governo, o que se deve examinar é a complexidade da questão e a necessidade de propostas que, baseadas em diagnósticos precisos, contenham sugestões para minimizar o desemprego atual e futuro.

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