São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Mercado no Oriente Médio é viável

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Finalmente saiu o acordo para a retirada das tropas israelenses de Hebron. E nesta semana, em Davos, na Suíça, estarão presentes ao Fórum Econômico Mundial o primeiro-ministro "Bibi" Netanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat.
Na reunião anual do FMI de 1996, a economia palestina já era um tema especial, promovido pelo organismo.
Quando Shimon Peres perdeu as eleições e o pessimismo era crescente, afirmei que os interesses econômicos já em curso acabariam garantindo a continuidade do processo de paz.
Nos meses seguintes, cada vez mais analistas passaram a acreditar que apenas um governo de direita, a exemplo de Menahem Begin, conseguiria levar adiante a paz. Apesar das reações dos grupos mais radicais, essas previsões estão sendo confirmadas.
Já no ano passado, na conferência "Israel-North America Business", em Nova York, o presidente da Israel Electric Corporation, Gad Ya'acobi, apresentava uma lista de projetos que poderiam abrir caminho para um mercado comum do Oriente Médio.
Começando, é claro, por projetos de eletrificação unindo Israel, a Autoridade Palestina e a Jordânia.
Há outros projetos de grande envergadura e de interesse direto para grandes grupos internacionais (oportunidade boa também, aliás, para empreiteiras brasileiras). Um canal ligando o mar Vermelho ao mar Morto, por exemplo, conta com a simpatia dos jordanianos.
Os estudos de viabilidade para uma hidroelétrica de 400 megawatts para Israel e Jordânia também foram citados por Ya'acobi.
Efeito geopolítico
Os efeitos geopolíticos da pacificação também são evidentes e foram usados na propaganda eleitoral de Peres.
Entre 1991 e 1995, o número de países mantendo relações diplomáticas com Israel passou de 85 a 161. A ampliação desse espectro, naturalmente, significa maior potencial de cooperação econômica.
As relações simbióticas (na biologia, dois seres que vivem em comum, como os líquens) entre a economia israelense e os territórios ocupados são outro bom motivo para acreditar que a pacificação é um caminho sem retorno.
Estima-se que um bloqueio israelense aos territórios (que acontece depois de atentados mais graves) gera perdas de até US$ 4 milhões por dia à economia palestina. Isso significa desemprego nos territórios. Nada é mais propício à violência.
Um bloqueio também prejudica a economia israelense. Afinal, quando Israel impede a importação de produtos palestinos, principalmente os agrícolas, isso funciona como uma espécie de reserva de mercado para produtores locais.
No ano passado, por exemplo, o bloqueio às importações de produtos têxteis foi suspenso, mas o lobby dos agricultores manteve as restrições às importações de produtos agrícolas, uma medida protecionista sem nenhuma justificativa em termos de segurança nacional.
Até a véspera do acordo sobre Hebron, as notícias eram de paralisação nos projetos de integração regional. Mas as bases da área industrial na margem jordaniana da ponte Sheikh Hussein já estão prontas. Na faixa de Gaza, também devem ganhar velocidade as obras do parque industrial Karni.
Para completar esse quadro de maior otimismo, há poucos dias o Fundo Monetário Internacional (FMI) decidiu incluir Israel na categoria de país industrializado.
Há expectativa de que isso diminua o risco de crédito do país nos mercados internacionais. A reclassificação da economia israelense ocorreu junto com as de Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Taiwan.
Segundo uma fonte do banco central israelense citada pelo jornal "Jerusalem Post", a reclassificação pode levar Israel a doar recursos para "países em desenvolvimento". Além de ser um instrumento diplomático, nada impede que no futuro, com mais paz, os créditos sejam dirigidos à própria Autoridade Palestina.

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