São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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A lógica da Vale

LUÍS NASSIF

A diretoria da Companhia Vale do Rio Doce -indicada pelo governo Itamar Franco e mantida pelo atual governo- é um bom referencial para exorcizar fantasmas e apontar questões concretas no processo de privatização da companhia.
Há dois mitos relevantes a serem desmistificados.
O primeiro é que a venda da Vale significaria abrir mão do controle do país sobre as riquezas minerais. O subsolo é do governo e regulado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), explicam eles.
O segundo é que a mudança de controle da empresa poderia comprometer a política mineral do governo. Dizem eles que jamais a Vale foi instrumento de política mineral do governo.
A Vale investiu e cresceu seguindo a lógica da própria companhia. Nesse sentido, a privatização da empresa não representaria nenhuma ameaça à soberania nacional, desde que fossem preservados seus interesses como empresa.
A única ameaça residiria na possibilidade de o controle ser empalmado por algum concorrente que decidisse reduzir a exploração mineral da Vale para ampliar sua própria participação no mercado mundial.
A partir dessa constatação, defendem um modelo de controle compartilhado na empresa, que permitisse que fundos de investimento, de pensão, capitais externos e nacionais constituíssem um bloco de poder compartilhado, tendo em comum a busca do crescimento e da rentabilidade.
Defendem, igualmente, que a Vale seja vendida na conformação atual, sem o partilhamento da companhia. Entendem que o nome Vale é poderoso e a constituição atual permitiu à empresa montar um know-how apreciável de parcerias nacionais e internacionais.
Por isso, condenam a forma de modelagem proposta para a Vale -pela qual se irá vender o bloco de controle para grupos específicos.
Julgam que se chegou a esse modelo por um erro. Foi fixado um percentual de remuneração sobre a venda. Dessa maneira, os consultores buscaram o modelo que implicasse menos trabalho e despesa. Mas que -em sua opinião- pode não ser o melhor para o país.
A Acesita foi um caso de privatização sem controle definido, que acabou fazendo com que a empresa ficasse sem mecanismos para se defender de operações dos executivos -que acabaram trazendo prejuízo grosso para os investidores.
Na sua opinião, o erro dos controladores foi não indicar para o conselho de economia especialistas da área. Sem especialistas, foi fácil para os executivos apresentar um plano megalomaníaco de tomada de controle de outras empresas do setor por preços exorbitantes.
Em relação ao anúncio recente de descobertas de novas jazidas, explicam eles que as descobertas já haviam sido anunciadas em outubro do ano passado.
Na ocasião, a Vale havia obtido dois furos favoráveis em cinco efetuados na área. Neste mês, a novidade foi o aumento de furos e do percentual de sucesso -cinco bem-sucedidos em dez efetuados.
A diretoria julga que as descobertas devem ser incorporadas ao preço mínimo da companhia. Afinal, trata-se de descobertas já realizadas, potencialmente promissoras.
Sabem ser impossível o cálculo completo das reservas antes de três anos. Mas julgam que a ida de consultores americanos ao local permitirá uma espécie de avaliação da gênese da área, possibilitando uma avaliação preliminar, ainda que superficial, do valor da área.

Email: lnassif@uol.com.br

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