São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Retrocesso nas exportações

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O comércio mundial tem crescido a taxas robustas nos últimos anos. Descontada a inflação internacional, cresceu 6% entre 1990 e 1994 e quase 9% entre 1995 e 96.
Em contraste, as exportações brasileiras estão em retrocesso. Cresceram 3,5% ao ano entre 1990 e 94 e apenas 1,8% nos dois últimos anos, após se descontar a inflação internacional.
Já as importações cresceram 11,2% ao ano de 1990 a 94 e 23,3% de 1995 a 96. O crescimento maior ocorreu em 1995, devido a fatores conhecidos como a sobrevalorização da moeda nacional, a liberalização das importações com a redução das tarifas alfandegárias e o crescimento da economia.
As exportações brasileiras haviam ganho terreno entre 1980 e 1984. Naquele período, cresceram 4,6% ao ano, apesar de o comércio mundial retrair-se 4,3% ao ano por causa da recessão internacional deflagrada pela elevação da taxa de juros nos EUA.
O período de 1980-84 é importante, pois foi quando o Brasil precisou gerar grandes saldos positivos na balança comercial para poder pagar os juros da dívida externa. Os superávits foram gerados tanto pela retração das importações como pela taxa de câmbio real, cerca de 30% mais elevada, e pela contenção da demanda doméstica.
No período seguinte, 1985-89, o comércio mundial voltou a crescer, mas nossas exportações não tiveram o mesmo desempenho, devido a deixar-se a taxa de câmbio atrasar. Na coluna da semana passada, incluímos um gráfico com o preço da moeda nacional entre 1970-96, o qual mostrava a defasagem cambial ocorrida em 1988-89.
Enfocando apenas o período mais recente, nossas exportações estão crescendo menos do que a metade do comércio internacional.
Essa má performance não permite um crescimento maior da economia.
As exportações perdem terreno relativo, devido às tentativas de conter a inflação amarrando-se a taxa de câmbio em níveis irreais. No presente, novamente o governo vem deixando a taxa de câmbio defasada, jogando o problema para o futuro.
O problema está em adiar-se esse ajuste. Em 1997, ainda é possível fazer o câmbio flutuar para cima, com maior sobressalto, diminuindo-se a oferta de dólares. Para isso, basta diminuir a taxa de juros para nível um pouco maior que o internacional.
Esperar por 1998, ano em que teremos novas eleições presidenciais, sem ajuste algum apenas estimulará a formação de expectativas desfavoráveis. Isso agrada àqueles que gostam de viver perigosamente. Mas por que arriscar?

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