São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trânsito: mudando nossos bairros

EDUARDO A. VASCONCELLOS

O que aconteceu com a qualidade de vida nos nossos bairros? A abertura de vias para todo tipo de tráfego e o uso indiscriminado do automóvel trouxeram prejuízos para a segurança dos pedestres e para a qualidade ambiental (poluição sonora e atmosférica).
Para as relações sociais, o trânsito intenso e veloz gera o isolamento das pessoas, o seu distanciamento da rua e dos vizinhos.
No uso dos meios de transporte, os bairros de São Paulo são prisioneiros de esquemas de circulação que praticamente excluem quem pretende usar as vias sem o carro.
Andar a pé ou de bicicleta é perigoso e desconfortável: as calçadas são precárias, não há sinalização adequada e os motoristas não respeitam os que não usam automóveis. O transporte coletivo também é precário. Só resta o confinamento em casa ou dentro do carro.
O automóvel é uma tecnologia de grande utilidade, mas nos tornamos seus prisioneiros. Em nome da qualidade de vida e da cidadania, todas as pessoas devem ter o direito a usar as vias com segurança e conforto, independentemente do transporte utilizado.
Existem muitas saídas para o problema. É possível reorganizar o trânsito nos bairros sem que isso signifique proibir o automóvel. Mas ele deve ser "domesticado".
Algumas medidas que podem ser implementadas:
. As pessoas devem refletir sobre esse problema no bairro para que se inicie um processo de mudança de comportamento. Essa reflexão deve incluir uma análise das necessidades das pessoas, da função das vias locais e dos problemas verificados. O objetivo é revolucionar o uso das ruas, reverter o processo de desrespeito e violência na sua utilização e construir um novo espaço de convivência;
. A proposta de mudança deve estar baseada nas perguntas centrais: quem deve usar as ruas e em quais condições de conforto e segurança? Como cada rua deve ser usada pelas pessoas? Para efetivar as decisões, deve então ser mudada a configuração física de trechos e cruzamentos importantes, acompanhada de nova sinalização que reflita, na prática, o acordo feito entre os moradores.
Essas mudanças devem ser projetadas para criar um espaço seguro, no qual as pessoas sintam-se à vontade para circular e interagir.
Para atingir os objetivos, a sinalização deve definir claramente a preferência de passagem nas interseções, reduzindo os acidentes. Deve-se criar rotas preferenciais para pedestres e ciclistas e garantir condições de circulação e parada para o transporte coletivo.
Finalmente, deve condicionar velocidades baixas dos automóveis. Nesse último caso, os estreitamentos de pista, a colocação de pisos irregulares junto a cruzamentos perigosos e a criação de retornos obrigatórios são medidas simples que podem ter grande resultado. As vias próximas, de maior capacidade, devem acomodar o eventual tráfego adicional;
. O projeto deve ser implantado com supervisão dos moradores. Esse novo espaço, criado aos poucos na cidade, pode representar um passo importante para a recuperação da qualidade de vida.

Texto Anterior: Inflação bate imóveis em BH
Próximo Texto: CARTA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.