São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Pesquisador descobre tratamento que lança esperança na luta contra a Aids

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais de 30 milhões de pessoas acham-se infectadas pelo vírus da Aids, o HIV, descoberto em 1983 por Luc Montagnier na França e redescoberto um ano depois por Robert Gallo nos Estados Unidos.
Não mais se aceita a idéia de que o vírus, após penetrar na pessoa, permaneça durante algum tempo latente e só depois de muitos anos possa manifestar seu poder mortal.
Aceita-se que ele, após invadir o corpo, comece logo a multiplicar-se abundantemente, atacando as chamadas células T do sistema imune.
Em congresso havido em Vancouver (Canadá), David Ho comunicou os resultados de experiência verdadeiramente sensacional. Ministrando uma combinação de inibidores de protease com numerosas drogas a pessoas nos primeiros momentos da infecção pelo vírus, ele observou que a condição dos pacientes (baixa do vírus no sangue e aumento das células T) melhorava acentuadamente, praticamente eliminando o vírus segundo modelos matemáticos.
Era a esperança que renascia num panorama que ainda é sombrio. Mesmo que o tratamento de Ho, precoce, se confirme em muitos outros recém-infectados, uma dúvida ainda persiste: o tratamento é muito caro e inacessível aos mais pobres, especialmente nos países de pouco desenvolvimento. Além disso, ainda não se dispõe de droga que certeiramente atinja o vírus em pessoas com a doença já avançada. Ficou, todavia, provado no ano passado que a doença não é invencível.
Entre os muitos que se dedicaram ao estudo do HIV e seu tratamento e prevenção, destaca-se David Ho, e, por isso, a revista "Time" o proclamou o "homem do ano" de 1996. Ho foi um dos primeiros a reconhecer que a Aids é doença infecciosa. Além disso, trabalhou sozinho ou em colaboração com outros virologistas na descoberta de que na Aids o vírus se multiplica desde o início. E muito contribuiu para a mudança de foco das pesquisas dos estados finais para o início da doença.
E, afinal, introduziu com os "coquetéis" de inibidores de protease e muitas outras drogas combinadas a esperança de breve domínio do mal.
Bem merecido o galardão que a revista lhe concedeu, mas é preciso insistir em que no fundo as vitórias que agora se celebram, na esperança de eliminar o vírus, pertencem de fato a muitos pesquisadores, cada qual com sua contribuição, no progresso do conhecimento sobre os muitos enigmas da infecção pelo HIV.

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