São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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A era dos fulanos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não aprecio a palavra "fulanizar", mas ela entrou em circulação e sou obrigado a admitir que funciona perfeitamente neste momento de fulanos. Para quem é obrigado a se preocupar com as futricas da política e da administração, é pasmosa a transferência de causas e planos para a área dos ditos fulanos. Já vai longe a época em que se brigava e discutia por causa de idéias e metas. Briga-se e discute-se por causa de egos e superegos que brigam e discutem sobre cargos e posições.
Fica difícil saber quem é quem nesse emaranhado de fulanos. Sabemos o que pretendem. O maior desses fulanos é o presidente da República, que deseja ter a possibilidade de ser reeleito -não sei bem para quê, pois uma vez reeleito ele perderá sua meta básica que é continuar no poder.
Quando foi nomeado o novo ministro do Planejamento, o próprio divulgou um programa mirabolante que chegou a ser comparado ao Plano de Metas. Foi obra apressada, feita para dar a impressão de que o governo ia para algum lugar em vez de ficar no mesmo lugar. Não se fala mais no plano.
As reformas prometidas em campanha eleitoral foram reduzidas a uma única reforma para atender ao interesse pessoal do presidente e às conveniências do grupo que ele representa e beneficia. Outro dia lembrei o plano de recuperação econômica da Alemanha em dois períodos antagônicos: na chegada do nazismo ao poder e no pós-guerra. Poderia lembrar também os Estados Unidos na Grande Depressão, quando a sopa dos pobres foi substituída por corajosa injeção de recursos na economia e, com isso, foram criados empregos que levaram o país à liderança mundial.
Os neoliberais acusam Roosevelt de ter sido paternalista, de ter criado uma política assistencialista. O Brasil de FHC só injetou dinheiro para salvar banqueiros que, em troca, pretendem salvar times de futebol.

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