São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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Capello rejeita espetáculo

M. GALAZ e S. SEGUROLA

M. GALAZ; S. SEGUROLA
DO "EL PAÍS"

Em seis meses, Fabio Capello, 50, colocou o Real Madrid na ponta do Campeonato Espanhol. Seus jogadores não conhecem a derrota, terminado o primeiro turno da competição.
Mas não há unanimidade: parte dos fãs querem que o time não ofereça espetáculo. Capello rebate com o argumento de que o futebol moderno é "ordem e marcação-pressão".
*
Pergunta - Que balanço você faz do Real Madrid, após o término do primeiro turno do Campeonato Espanhol?
Capello - Estou satisfeito, principalmente porque a mentalidade da equipe mudou muito. Antes, o time tomava um gol e se ressentia. Agora, segue adiante. É uma equipe que se ajuda, que tem capacidade de sofrimento, que não decai na adversidade. Mas podemos fazer melhor. Se o time continua nessa linha, temos tudo: jogadores de qualidade e mentalidade coletiva.
Pergunta - É difícil comandar tantas estrelas?
Capello - Eu gosto dos grandes jogadores, mas grandes jogadores que saibam sofrer. Porque os grandes atletas que correm, lutam e sofrem são os que marcam a diferença.
Pergunta - Você sempre faz referências ao ao trabalho e à disciplina. Parece não haver lugar para o prazer no jogo...
Capello - Nos últimos 20 ou 25 metros do campo, os jogadores podem fazer o máximo uso da fantasia. No meu ponto de vista, tem que haver ordem em campo e depois, a partir do coletivo, aproveitar a fantasia, que é a qualidade individual. Nunca vou mudar isso.
Pergunta - O que você não gosta em uma equipe?
Capello - Em uma equipe, há questões a serem melhoradas, mas não há grandes defeitos. Por exemplo, necessitamos jogar um pouco mais rápido quando temos a bola.
Outras vezes, não escolhemos a jogada correta. Entre um passe lateral fácil e um passe arriscado, mas profundo, eu fico com o passe profundo, porque um jogador pode ficar frente a frente com o goleiro.
Pergunta - Que tipo de jogador você quer no Real?
Capello - Grandes jogadores.
Pergunta - O que é?
Capello - Se é um defensor, um homem muito forte. Hierro, Panucci e Redondo são grandes jogadores. O Real Madrid necessita de atletas que estejam entre os três ou quatro melhores do mundo.
Pergunta - Você tem o elenco que quer?
Capello - Estamos esperando alguns jogadores, como Zé Roberto (Portuguesa).
Pergunta - Você viajou à Itália e conversou com Adriano Galliani, diretor do Milan...
Capello - Eu te digo a razão. O relógio. Cada vez que o Milan ganha um Campeonato Italiano, o clube oferece um relógio. Galliani me deu o relógio.
Pergunta - Durante a pré-temporada você declarou que havia um par de jogadores que não teria comprado. Achou-se que eram Suker e Mijatovic. Tem alguma dúvida sobre esse jogadores?
Capello - Não se pode duvidar do talento desses jogadores ou não se sabe de futebol.
Pergunta - Tem-se a impressão de que você tenta passar à frente suas declarações.
Capello - Eu já trabalhei como jornalista. Conheço o problema. Sempre creio na boa fé. Se não a tem, o que se vai fazer?
Pergunta - Parece doído.
Capello - Não leio jornais.
Pergunta - Mas sabe tudo que se publica.
Capello - Porque me comentam.
Pergunta - Crê que este é o melhor Real Madrid possível e que todos gostam da equipe?
Capello - Pode melhorar. Mas o importante é saber que tipo de futebol se gosta. Falam de espetáculo e de futebol. O futebol é como uma arte. E na arte não existe um único estilo. Eu gosto muito de arte moderna, vanguarda. E há gente que diz: "Isso não é arte".
O mesmo acontece com o futebol. Somente digo que, depois da Eurocopa-96 na Inglaterra, o futebol está mudando. Não só aqui. Também na Argentina e no Brasil. Joga-se com um atacante, no máximo dois, e com uma velocidade incrível.
No futebol moderno, há dois momentos históricos: o Ajax da década de 70, com a linha de impedimento e a marcação-pressão, e o Milan, com marcação-pressão e jogadores de qualidade imensa.
Agora o Milan tem problemas, pois todos os rivais se preparam para bater seu sistema. Todo mundo crê na marcação-pressão, na recuperação da bola. Agora é necessário muita velocidade para superar a marcação-pressão. Há uma grande preparação física: todos correm como loucos.

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