São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Indústria da corrupção

JANIO DE FREITAS

Uma pergunta é suficiente para invalidar as negativas de Sérgio Motta e Fernando Henrique Cardoso à denúncia gravada de que compraram, valendo-se do uso de verbas do BNDES, o apoio do governador Valdir Raupp (Rondônia) à reeleição de Fernando Henrique:
- Sabendo-se que o PMDB está indefinido em relação à candidatura de Fernando Henrique e que Raupp é do PMDB, por que o governador entregaria ao presidente, como fez há dois meses, e a gravação atual o confirma, uma carta comprometendo-se a apoiar sua nova candidatura?
A única finalidade de um documento assim é, obviamente, a de impedir que uma das partes faça o benefício combinado e a outra, o signatário, depois de receber não cumpra o que lhe cabia.
As conversas entre o deputado Emerson Olavo Pires e Raupp, cujas gravações foram obtidas pelo repórter Lucio Vaz, da Folha, incluem outras evidências da ligação entre o compromisso escrito e a promessa de recursos do BNDES para obras reeleitoreiras também do governador. Uma dessas evidências é a simultaneidade, há dois meses, do compromisso e da promessa de recursos revelada por Raupp, depois de uma audiência com o presidente-candidato.
Outra das evidências é a firmeza com que Raupp diz que "o próprio presidente determinou (...) que se fizesse isso (a liberação dos recursos pelo BNDES) o mais rápido possível. Tanto o presidente quanto o Sérgio Motta".
Na tentativa de negar as evidências gravadas, Sérgio Motta conseguiu fazer, desta vez, uma observação que não é de todo tresloucada. Na lucidez-relâmpago, disse que "há uma indústria de denúncias" na imprensa. Se melhorar, compreenderá que tal indústria só é possível quando há matéria-prima fornecida por uma indústria de corrupção.
Em produção
A reunião dos peemedebistas que foram quercistas, depois colloridos e são henriquistas apresentou-se como iniciativa dos governadores do partido, mas foi outra coisa: foi o primeiro lance da reação planejada pelo círculo de Fernando Henrique contra uma constatação preocupante. É que os repetidos e diversificados levantamentos demonstraram todos, ao longo dos últimos três a quatro meses, ser muito incerto o apoio das bases peemedebistas e seus convencionais à candidatura de Fernando Henrique.
O plano do governo é rachar o PMDB o mais depressa possível. Isso seria obtido, como solução extremada, com a pressão dos governadores e certos parlamentares do PMDB para a convenção partidária tão próxima quanto possível. Daí a insistência durante toda a semana, de Fernando Henrique, Sérgio Motta, Michel Temer e coadjuvantes, pela definição urgente.
Mais tarde saberemos de gravações e outras matérias-primas produzidas pelo ramo industrial da sociedade de Sérgio Motta e Fernando Henrique, antes sócios só em inexplicados investimentos imobiliários e agropecuários.

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