São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Covas reconhece que o PSDB "inchou"

LUÍS COSTA PINTO

LUÍS COSTA PINTO; ELIANE CANTANHÊDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Governador defende político que seja um executivo no comando para "pacificar" e dar direção aos tucanos

ELIANE CANTANHÊDE
em São Paulo
Um mês depois de anunciar que não concorrerá à reeleição em 98, o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), reconhece: "O PSDB inchou". Defende um "político que seja executivo" na direção do partido para "pacificá-lo". Diz que, no governo do Estado, fez o que tinha de fazer e se sente à vontade para administrar.
Covas tem uma idéia fixa: "A aprovação da reeleição veio cedo demais. Eu avisei. Depois dela, começava a campanha e a gente precisaria explicar cada passo e cada viagem", disse ele durante o almoço da última terça-feira.
O aviso ao qual se refere foi feito ao presidente Fernando Henrique Cardoso, maior beneficiário da reeleição, com quem Covas agora trata de recompor relações. Leia a seguir os principais trechos da entrevista do governador:
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SUA REELEIÇÃO - "O partido tem muitos nomes para disputar o governo. Na campanha, o importante não será quem estará em cima dos palanques, mas o que estará defendendo", crê. Não diz quem pode substituí-lo. "Não vou citar nomes, mas tem gente. Se não acreditam, paciência... Não podia era continuar viajando ao interior toda semana, como faço desde o início do governo, e sempre explicar que estava ali como governador e não como candidato."

REELEIÇÃO DE FHC - Criticando a falta de oportunidade da reeleição, Covas atinge diretamente o presidente da República e a maioria parlamentar que seu governo reuniu no Congresso para aprová-la. Desdenha de quem argumenta que os prazos da lei eleitoral tornavam imperativo remendar a Constituição de 88 já no começo deste ano para fazê-la prever a reeleição. "O Fernando está forte e sabe disso. Não tem ninguém melhor do que ele para ocupar a Presidência. O país inteiro sabe disso. A reeleição viria quando fosse mais cômodo, mas a campanha já começou e está contaminando todas as administrações", afirma.
Raciocinando como parlamentarista, prefere em FHC o chefe de Estado ao chefe de governo. "É o presidente ideal para um regime parlamentarista. Dá orgulho saber que estamos sendo representados lá fora por alguém como ele. Isso volta ao Brasil como investimentos e credibilidade. Mas precisamos de um político profissional ao seu lado para operar o dia-a-dia com o Congresso, falando pelo presidente", ressalva.

SEGUNDO TURNO - O Senado votará, nesta semana, um projeto do senador Sérgio Machado (PSDB-CE) reduzindo de 50% para apenas 45% dos votos válidos o percentual de votos que um candidato a prefeito, governador ou presidente precisa obter para vencer a eleição em primeiro turno.
Covas é contra o projeto. "Vai parecer golpe. Depois de aprovar a reeleição com a cara do Fernando, se aprovar isso, o Congresso será condenado por parecer excessivamente casuísta." Mas é favorável à mudança no futuro. "Os dois turnos são instrumento do parlamentarismo. Não têm sentido no presidencialismo, pois servem para formar maioria eleitoral e não maioria de governo. Deveriam acabar principalmente nos municípios."

PSDB - Ele intensificou, nos dois últimos meses, suas conversas com as principais lideranças do PSDB. Há duas semanas jantou com FHC, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) e o governador Tasso Jereissati (Ceará) no Palácio dos Bandeirantes. A conversa, diz, fazia-se necessária para debater o destino do PSDB. "Vamos reeleger o Fernando, isso é certo. E o partido? Ao contrário do que dizem, ganharemos alguns Estados, possivelmente os de São Paulo, Rio e Minas, mas e o poder no Congresso? Isto é grave. O partido inchou", diz. "O PSDB precisa de um político que seja executivo para presidi-lo, pacificá-lo, para lhe dar direção", diz, sem citar nomes.

COVAS POR COVAS - O governador é capaz de jurar que o presidente nunca lhe pediu para voltar atrás na renúncia e disputar a reeleição. "Ele me conhece e me acha meio turrão, emperrado. Até sou. O Fernando sabe que não adianta me pedir nada agora. Mas também o conheço. Tenho certeza de que, na cabeça dele, esta desistência é passageira. Deixa que pense assim", concede sorrindo. Diz que a 'obra' de seu governo que mais o orgulha ainda está por vir. Não é nenhuma obra de concreto. É móvel e de aço. "Terei o maior orgulho de meu governo em janeiro, quando puser os trens espanhóis com ar-condicionado circulando pelos subúrbios. Será um enorme ganho em qualidade de vida para cidadãos da periferia", discursa.

LEI KANDIR - Há uma briga entre o governo de Covas e o de FHC, da qual o governador não quer sair: a disputa por cerca de R$ 1 bilhão que ele calcula ter perdido em arrecadação de ICMS por conta do fim da tributação sobre bens de capital e produtos destinados à exportação. "O presidente garantiu que nos primeiros cinco anos de vigência da lei, os Estados seriam ressarcidos das perdas. Só fui a favor da lei em função disso, logo é uma questão de princípio que o governo cumpra o prometido."

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