São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Pefelista defende o uso político da Unoeste

ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

O ex-deputado federal e ex-prefeito de Presidente Prudente (SP) Agripino Lima (PFL), 66, defende a utilização de bens da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) para fins políticos, como transportar colegas de partido que visitam o hospital universitário.
Em entrevista à Folha, Lima, reitor e fundador da Unoeste, diz que os aviões de propriedade da universidade serão usados em uma possível campanha para governador do Estado, cargo que almeja.
"Eu tenho que viabilizar a minha candidatura e meus propósitos, que são honestos", disse.
Agripino afirmou que nunca se beneficiou financeiramente do fato de a Unoeste ter isenção de impostos. Disse que não deve nada ao governo e que já recorreu contra o auto de infração da Receita Federal, no valor de R$ 80 milhões.
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Folha - O sr. teve benefício pessoal em decorrência de sua universidade ter isenção de impostos?
Agripino Lima - Em 1972, eu vendi uma fazenda para iniciar a universidade. Eu nunca fui um aventureiro. Eu entrei no ensino a pedido de uma comunidade. Mas eu tinha bens para isso.
Quando eu tinha 16 anos, eu tinha vontade de ter uma bicicleta, mas não tinha. Hoje, à minha disposição, tenho três aviões, como reitor. Mas sou reitor de uma universidade que eu construí. Teve a imunidade (fiscal)? Teve para todo o Brasil. Se não tivesse, eu pagava imposto e seria o mesmo Agripino.
Folha - Mas utilizar aviões da universidade para relações políticas não é uma transferência de privilégios para a sua vida pessoal?
Lima - Se eu tivesse interesses pecuniários na política, está certo, mas tudo que eu faço vem para o bem comum. Nunca recebi nada do poder público. Eu tenho a imunidade por acidente, mas eu sou fazendeiro, eu produzo gado.
O Covas não usa o avião do Estado? Eu não vou usar avião do Estado porque eu tenho o meu. Se é da universidade, é meu, porque a universidade é minha, eu construí.
Folha - O avião é um bem necessário para a universidade?
Lima - É um bem necessário. A minha universidade está a uns 500 quilômetros de São Paulo. O pessoal quer que eu ande a pé ou que os professores venham de São Paulo a pé ou de ônibus?
Folha - O carro (Mercedes-Benz S500) que o sr. comprou não tem ligação com a Unoeste?
Lima - Vendi gado para comprar o carro. Por que não posso comprá-lo se trabalho 20 horas por dia e sou um homem capaz?
Folha - O sr. acha que, para o crescimento de sua universidade, essa isenção fiscal foi essencial?
Lima - Há imunidade, mas existe a contrapartida. Você tem que fazer a parte social, e nós fazemos. E isso custa dinheiro. Esse negócio não é de mão beijada. Se ela (universidade) deu o retorno, ela não deve nada ao Estado.
Folha - Para o seu projeto de se tornar governador, a estrutura da universidade é necessária?
Lima - Lógico! Eu vou mostrar o hospital que eu fiz, com um atendimento de Primeiro Mundo, que eu vou aplicar no Estado. Um hospital desse, que existem poucos no país, eu vou construir um em cada centro de região. Aqui você não vê ninguém desdentado, porque a universidade trata dos dentes.
Folha - O sr. não acha que os benefícios que a universidade teve com a isenção fiscal só deveriam ser utilizados no âmbito educacional, sem serem levados à política?
Lima - Mas não é âmbito político, é âmbito social.
Folha - O encontro com delegados do seu partido para discutir a candidatura do sr. é algo político...
Lima - É como falei para você: para quem tem intenção de ganhar dinheiro da política, sim. Eu não.
Folha - Não é difícil uma regra vislumbrar intenções do político?
Lima - Eu uso o instrumento de trabalho meu, aviões que são da universidade. Agora, ninguém questiona os diretores de universidades públicas que vão com a família para o exterior passear a título de fazer curso.
Folha - O sr. considera um serviço social um encontro com delegados do seu partido?
Lima - Perfeitamente! Tenho de viabilizar minha candidatura e meus propósitos, que são sadios.
Folha - O sr. está adquirindo (pela Unoeste) um novo avião. Seu uso principal será a universidade?
Lima - É lógico que é a universidade. Campanha minha é um mês, dois meses. Eu tenho que divulgar isso aqui, tenho que mostrar o que é bom. Se eu fosse buscar gente fora para mostrar motel que eu tivesse construído... Mas eu não vou mostrar motel, estou mostrando escola, estou mostrando hospital.
E você sabe que os jornais também têm isenção (no papel de jornal). E seria justo eu perguntar para vocês: 'e essa isenção, onde é que vocês estão pondo'?
Folha - Qual o caráter do plano de saúde da Unoeste?
Lima - Esse plano de saúde é exclusivamente para ajudar a manter o hospital em alto nível.
Folha - O plano tem dado algum lucro para o sr.?
Lima - Para mim, nada, só para o hospital. Não tiro um tostão. Nunca tive chave de cofre.
Folha - A universidade hoje gera lucro? E ele vai para onde?
Lima - É reinvestido, só. Temos 600 homens que trabalham em construção.
Folha - Em uma possível candidatura ao governo, aviões ou veículos da universidade serão usados?
Lima - Lógico, se eu precisar. Eu sou reitor da universidade.

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