São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Sagas de tempos que foram e que vêm

JESUS DE PAULA ASSIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira viagem no tempo realmente importante aconteceu há 102 anos. Seu protagonista não tinha nome: era apenas "O Viajante do Tempo". Seu destino foi o futuro, mais precisamente, o ano 802.701. Sua narração (antes que ele desaparecesse novamente) está registrada em "A Máquina do Tempo", de Herbert George Wells.
Antes dele, conhecem-se pelo menos cinco textos com esse tema, sendo o primeiro de 1781. Para garantir a viagem, todos recorriam ao expediente do sono ou da intervenção de seres mágicos, como fantasmas ou fadas.
Depois de Wells, viajar no tempo tornou-se tema obrigatório de ficção científica. E mais, o meio de transporte mais comum tornou-se a máquina do tempo. Aquelas novelas cujo motor da "viagem" (se é que o termo se aplica mesmo, já que o viajante ficava parado, esperando o tempo passar) era o sono prolongado caíram de moda (embora o próprio Wells tenha recorrido ao artifício uma vez, em "Quando o Adormecido Despertar", de 1899).
Sam Magruder também usa uma máquina. Em seu laboratório, trata de esgarçar o tecido do tempo, para descobrir-lhe falhas. Penetra em uma delas por acidente e volta 80 milhões de anos.
O ponto alto da novela de Simpson está justamente no reconhecimento de que o tempo nada tem a ver com desígnios humanos. Por que cair em uma época próxima do presente? Por que, como acontecia com Tony e Doug (quem se lembra deles, perdidos agora no passado?), a viagem devia sempre terminar em algum ponto crucial da história? Por motivo algum. A história humana é um detalhe apenas no espaço-tempo, nada tendo de privilegiado.
Simpson compartilha com Wells, de qualquer forma, a idéia de que o tempo é linear: uma sequência fixa da qual o presente é apenas um ponto.
Uma estrutura diferente é apresentada no conto "O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam", de Jorge Luis Borges. Neste, o tempo é uma trama. Existem tempos, sequências autônomas que se cruzam e divergem: perder-se no tempo é se perder de "seu" universo. Diferentemente de Wells e Simpson, Borges não mostrou como viajar em um labirinto assim. Mostrou apenas sua possibilidade, o que, de um certo modo, torna este universo (o dos que lêem seu texto) algo especial.
(JPA)

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