São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova York declara guerra ao barulho

Cidade aprova projeto para 'silenciar' noites

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT"

A "Grande Maçã" está sendo amansada. A Times Square perdeu a maior parte de seus viciados e estabelecimentos de sexo. Os motoristas de táxi recebem ordens para serem gentis e para também falar inglês. Parece que agora estão mandando dormir "a cidade que nunca dorme".
Não, o metrô não pára à meia-noite. Os viadutos do Queens seguirão rugindo às três da manhã, assim como o fazem às três da tarde. Também não estamos falando de um toque de recolher para o trânsito, que transformou a noite inteira em hora do "rush".
Mas a barulheira que ajuda a definir o que é a cidade de Nova York -as buzinas, o som dos clubes noturnos, até mesmo o chiado de um milhão de aparelhos de ar-condicionado- tudo isto tem de calar. Ou, se não calar, terá de abaixar para um volume que permita o descanso daqueles que preferem se recolher à meia-noite.
Este é o teor da nova proposta aprovada pelo Conselho Municipal na semana passada, que triplica o valor das multas para quem promover ruídos que excedam os decibéis permitidos. Faça algazarra sob a lua cheia e sinta as consequências no seu bolso.
O prefeito Rudolph Giuliani certamente se apressará em assinar esse projeto. Ele concorre à reeleição no próximo mês, e tornar Nova York um lugar habitável é seu passaporte para mais quatro anos na Gracie Mansion (residência oficial do prefeito). Passaporte, diga-se de passagem, que os eleitores agradecidos têm quase certeza que será entregue a ele.
A quem desagrada a nova lei? Aos donos de cachorro, é claro. Se o seu companheiro latir à noite, a multa pode chegar a US$ 500. A TV no último volume pode lhe custar US$ 1.050. Deixe o alarme de seu carro tocar por mais de três minutos e a dor será ainda maior: US 2.100. Multas ardidas como estas afligirão também os bares com música em altos volumes e motoristas que gostam de se debruçar sobre as buzinas.
Muitos moradores aplaudem a medida, especialmente aqueles das áreas consideradas residenciais, bairros que ainda não conseguiram se acostumar à enxurrada de bares e discotecas. "Os nova-iorquinos nunca mais ouvirão os grilos à noite. Só estão tentando tornar a cidade um pouco mais sã", disse o vereador Gifford Miller.
Os donos dos bares, porém, estão protestando. "Isso vai matar os negócios", queixou-se um proprietário. A Associação da Vida Noturna em Nova York esperneou: "Não dizemos que os clubes noturnos são um exemplo de silêncio e tranquilidade. Mas há de haver certa tolerância. A 'cidade que nunca dorme' ganhou este nome por causa dos 'nightclubs'".

Texto Anterior: Cingapura tem ajuda externa contra derrame
Próximo Texto: Assis expõe riscos da arte na Itália
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.