São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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'Doutor, eu estava certo'

ADRIANA VIEIRA

Veja se você é um otimista ou sofre dos pesadelos de um hipocondríaco
"Doutor, é infarto, não é? Estou com uma dor no ombro esquerdo..." Esse foi a queixa que o clínico-geral Arnaldo Lichtenstien ouviu de vários pacientes, depois da morte do jornalista Paulo Francis, vítima de um infarto fulminante em fevereiro deste ano.
De todos esses pacientes, nenhum estava de fato com problemas no coração. Eram casos de bursite ou até de contusão ocorrida em jogo de futebol.
Histerias coletivas à parte, esse pessimismo é o principal sintoma de um hipocondríaco. "A pessoa realmente tem o sintoma, ela não inventa. Mas hipervaloriza esse sintoma e fica angustiada. Ela está tão convicta que acaba sofrendo, porque já vê a repercussão da doença até o final. Já imagina quantos exames terá de fazer, as sessões de quimioterapia e a morte", diz Lichtenstein.
O hipocondríaco típico é aquele que já chega no consultório com um calhamaço de exames, porque já passou por dezenas médicos, mas nenhum lhe deu o diagnóstico que ele estava esperando.
"Há dois tipos de médicos que acabam agravando a hipocondria do paciente: o que pede exames desnecessários, para sossegar o paciente, e aquele que nega o que a pessoa está sentindo e a manda procurar um psiquiatra. É preciso conversar muito antes de tomar qualquer atitude", afirma o médico.
Por não conseguir indicação de remédios por vias oficiais, o hipocondríaco acaba se automedicando. E essa é uma das consequências mais perigosa.
Outra característica do hipocondríaco são impulsos obsessivos-compulsivos -lavar as mãos 20 vezes por dia com medo de contrair uma doença, por exemplo.
Se a ansiedade e a angústia não forem tratadas, podem ocorrer doenças psicossomáticas.
Outro perigo da hipocondria é quando de fato a pessoa contrai alguma doença grave, mas o médico não acredita. Por isso, costuma-se dizer que o epitáfio de todo hipocondríaco é: "Eu estava com a razão, doutor".

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