São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Mercados futuros

LUIZ CLÁUDIO CAFFAGNI; PEDRO V. MARQUES

LUIZ CLÁUDIO CAFFAGNI
PEDRO V. MARQUES
Com o processo de esgotamento das políticas governamentais, nota-se uma mudança no perfil de empresários rurais, das agroindústrias e dos consumidores, que passam a se preocupar com riscos de preços e custos de produção.
Existem vários tipos de riscos na atividade agropecuária, entre eles, riscos de preço, que se traduzem em oscilações desfavoráveis. Um produtor rural tem receio de que o preço de seu produto caia no momento da comercialização, enquanto a agroindústria preocupa-se com a elevação do preço da matéria-prima para aquisição.
Para se defender das oscilações desfavoráveis do preço, tanto o produtor rural como a agroindústria, devem procurar proteção nos mercados futuros agropecuários.
Esses dois agentes são chamados de "hedgers". Necessitam de proteção de suas posições futuras de venda (produtor) e de compra (agroindústria). Além deles, existem os investidores e especuladores que não possuem e nem necessitam da mercadoria, comprando e vendendo contratos com a expectativa de ganhar nas oscilações do mercado. Eles são importantes porque assumem riscos em troca da possibilidade de ganhos.
Esses três agentes negociam na data presente a expectativa do preço de uma determinada mercadoria no futuro. A formação dos preços futuros está relacionada às expectativas do mercado em relação a fatores que afetarão a oferta e a demanda. Os mercados futuros agropecuários negociam contratos de soja, milho, café, boi, algodão e açúcar na BM&F.
Como exemplo de uma operação de "hedge", suponha-se um produtor rural plantando sua soja neste mês de outubro, com um custo de produção em torno de R$ 9,00/saca e esperando R$ 13,00 na colheita, preço que lhe assegura boa rentabilidade. Sua grande preocupação é que os preços caiam abaixo de R$ 13,00 em abril/98, ocasião da colheita. Se a soja para abril estiver sendo negociada acima dos R$ 13,00, o produtor deve vender contratos na BM&F, para abril de 1998. Deve-se salientar, que ao se vender soja futura na BM&F, não há adiantamento de dinheiro, visto que a finalidade desse mercado é apenas fixar preços em meses futuros.
Os mercados futuros possuem uma série de mecanismos de garantias e um deles é o chamado ajuste diário. Suponha que notícias de falta do produto elevem o preço da soja para R$ 13,50 para abril de 98, na BM&F. O produtor deve então vender contratos futuros. Se no dia seguinte as cotações para abril/98 fecharem a R$ 13,40, o produtor receberá em sua conta corrente R$ 0,10 visto que seu produto passou a valer menos.
Se até abril/98, o preço da soja cair para R$ 12,00, o produtor receberá R$ 1,50 em ajustes diários os quais somados ao preço de venda da soja na sua região (R$ 12,00) totalizarão os R$ 13,50 pretendidos inicialmente. Por outro lado, se o preço subir, o produtor desembolsará ajustes diários.
Além desse mecanismo diário de "acerto de contas", existem outros, que juntos garantem a liquidação dos compromissos de pagamento e recebimento entre os participantes do mercado.

Luiz Cláudio Caffagni é pesquisador do Cepea/Esalq/USP e Pedro V. Marques é professor da Esalq/USP.

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