São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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O papel dos órgãos de classe

LUÍS NASSIF

Como comprovou fartamente o modelo italiano -e o próprio exemplo brasileiro do início dos anos 70- o salto exportador exige o estímulo a ações descentralizadas, que permita a cada região e setor aprender a caminhar pelos próprios pés. Essa organização social, amparada por medidas macroeconômicas e estruturais, será a única maneira de impedir que o estrangulamento do balanço de pagamentos restrinja o crescimento brasileiro nos próximos anos.
O segredo da operação consiste em dispor de estruturas enxutas que atuem como elemento catalisador desses processos, coordenando a ação dos diversos personagens envolvidos na operação, mas sem misturar as bolas -cada qual na sua.
Os personagens do processo são os seguintes:
1) Área econômica: cabe-lhe criar o ambiente econômico adequado, por meio de legislação e instrumentos de financiamento e de crédito. Essa área está sendo atendida, com a criação de linhas de financiamento, seguradoras etc. Falta azeitar os processos de liberação de recursos e o relacionamento com o sistema bancário.
2) Área de transportes: nos próximos anos, a infra-estrutura de transportes deverá avançar acentuadamente, com as novas ferrovias e a privatização dos portos. Falta estabelecer a competitividade na navegação de cabotagem e no transporte aéreo.
3) Promoção comercial: o Itamaraty está inerte, necessitando urgentemente de um reformador que atue de maneira coordenada com as embaixadas, debaixo de um projeto maior, negociado com o setor privado.
4) Instituições privadas de apoio no exterior: bancos, como o Banco do Brasil, e companhias aéreas, como a Varig, deveriam atuar como linha avançada dessa ofensiva, trabalhando em sintonia com os departamentos comerciais das embaixadas.
5) Associações empresariais: este é o ponto crucial.
Organizando demandas
Nos últimos anos, ficou claro que os setores que conseguem organizar adequadamente suas demandas têm acolhida mais rápida no governo. O Estado brasileiro não dispõe de estrutura nem de burocracia adequadas para pensar em diagnósticos e soluções.
Por outro lado, há muitos anos ficou claro que nenhuma ação de coordenação de esforços nacionais pode se dar a partir de Brasília. Engajar micros e pequenas empresas no esforço exportador exige uma "capilarização" só disponível em associações de classe.
Na Itália, as associações tiveram papel fundamental nesse esforço. Coube a elas juntar empresas, estabelecer planos estratégicos, trazer noções de marketing etc.
Essa missão ainda está muito vaga nas entidades empresariais brasileiras. Muitas delas ainda continuam presas a paradigmas do passado, de apenas canalizar as demandas dos associados junto ao governo federal -e, há muito tempo, não obter nada em troca.
A coluna de ontem trouxe alguns elementos sobre o programa "Exportar é o que Importa", lançado no início dos anos 70 e que permitiu às primeiras empresas brasileiras buscarem o mundo, fora da monocultura do café.
Na época, o trabalho de galvanização do setor privado era feito pela Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB), presidida por Giulite Coutinho. Já septuagenário, ontem Coutinho lembrava que a entidade dispunha apenas de seis pessoas.
Seu papel era exclusivamente o de estimulador e coordenador das ações das diversas associações comerciais e federações de indústria estaduais -além de interlocutor do Ministério da Fazenda e do Itamaraty.
A promoção consistia em um encontro anual de exportadores, com a presença de ministros e de mais de 1.500 empresários. E encontros estaduais, uniformizando o discurso perante as entidades empresariais.
Fiesp
Na semana passada, com base em artigos da coluna, Horácio Piva -candidato à presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)- resolveu incluir a proposta de trabalhar o modelo italiano em sua carta programa.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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