São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Herchcovitch tenta salto para a arte

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estilista Alexandre Herchcovitch apresenta hoje na galeria Cohn Edelstein, em São Paulo, onze novas criações suas. Mas não se trata, porém, de uma coleção temporã, entre o inverno e o verão, mas de sua tentativa de entrar definitivamente em uma área com a qual já vinha flertando: a arte.
São vestidos, blusas, blazers, luvas e sapatos sem qualquer pretensão de uso. Neles, o caimento é imperfeito, as costuras são aparentes, o acabamento é precário.
Não se trata de "wearables art" ou, para ficar em um contexto brasileiro, de parangolés revisitados. Parece até que Herchcovitch radicalizou ainda mais suas propostas estilísticas.
Pretende, em um primeiro momento, discutir as relações entre arte e moda, a partir de objetos sem suas funções utilitárias (a não ser que sejam assumidos como objetos de arte, apenas para fruição estética).
Uma blusa transparente, com suas mangas costuradas, aprisiona um corpo inexistente. O blazer tem quatro braços, sem costas ou frente definidos.
Uma luva infinita (apenas uma, não o par) desce do alto da galeria em seus vários metros de comprimento. Um par de sapatos (muito bem resolvido plasticamente) mira o vazio da parede no alto de seus saltos de um metro de comprimento. Herchcovitch quer dizer que as aparências enganam.
Como fez em sua profissão primeira, a de estilista, ao conquistar seu mercado questionando conceitos de seu próprio meio, como elegância, beleza, uso de materiais, tendências. "Quero mostrar que arte e moda não são áreas melhores que as outras e que todas podem ser mostradas em uma galeria", disse.
É possível perceber nessas suas criações algumas conotações surrealistas (a inversão das escalas) e dadaístas, como o uso de índices do cotidiano e a consequente dessacralização da obra de arte.
O uso constante do branco dá ainda às peças leveza e transparência desejáveis, mas essas características precisam ainda ser carregadas de mais conceitualização.
A confusão entre a arte e a moda defendida por Herchcovitch parece ter atingido também a galeria.
Afinal, o que a teria levado a colocar preços entre R$ 2.000 e R$ 4.000 nas obras do jovem artista, ainda sem o reconhecimento do mercado e em sua primeira individual, que, embora promissora, não apresenta -como nas criações de moda- idéias geniais?
A resposta pode ser o nome que Herchcovitch conquistou no mercado, mas em outra profissão, a de estilista.

Mostra: Alexandre Herchcovitch
Onde: galeria Cohn Edelstein (av. Europa, 641, tel. 011/883-3355, Jardins)
Vernissage: hoje, às 21h
Quando: de segunda a sexta, das 11h às 20h; sábado, das 11h às 14h. Até 15 de novembro

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